Em 1962 teve
início o Concílio Vaticano II. Em 2012, passados 50 anos o Papa Bento XVI
convocou o Sínodo dos Bispos para este mês de outubro que terá como tema: «A
nova evangelização para a transmissão da fé cristã», e que abre o «Ano da Fé»,
que irá até à Festa de Cristo Rei, em novembro de 2013. É a Igreja cumprindo a
missão que Jesus lhe deu: «Ide evangelizar!». A missão da Igreja é esta. O Papa
Paulo VI disse que esta é a identidade e a missão da Igreja. A Igreja deixar de
evangelizar seria como o sol deixar de brilhar
e a chuva deixar de regar a terra.
Neste contexto
abro aqui uma rubrica nova no Banquete sobre o tema da fé. Ao meio de cada
semana vou procurar partilhar com os leitores do blogue «O BANQUETE DA
PALAVRA», uma pequena reflexão sobre o que a fé não é, para logo no fim se
concluir sobre o que a fé é ou pode ser no coração de cada pessoa que
se abre ao mistério de Deus e da humanidade. Não quer dizer que ao longo das
reflexões sobre o que a fé não é, já não se vá percebendo sobre o que a fé, afinal,
é na vida de cada pessoa.
Vamos lá então.
A fé não é uma aspirina espiritual
Muitas vezes as
pessoas que crêem e também as que não crêem entendem a fé como uma espécie de
aspirina ou que deve ser um analgésico, que se toma quando as dores físicas, emocionais,
mentais e espirituais se fazem sentir. Aí a fé seria uma pastilha que se
tomaria para aliviar a dor. Por isso, muitas vezes as pessoas perdem-se na
procura de milagres, correndo atrás de todas as religiões ou confissões
religiosas, os seus directos responsáveis, todos os santos, bruxas,
curandeiros, horóscopos e outras realidades deste teor para que por magia
espectacular todos os males que esta vida implica desapareçam num ápice. Nada
mais errado encarar a fé desta forma. Proceder desta forma é deixar-se levar
pela frustração e pelo desencanto da fé que não tardará nada a chegar.
A fé vai
ajudar-nos a acolher o mistério da vida, o que ela tem de extraordinário, belo,
bom. Mas, também o que tem de dor, de sofrimento e de todo o género de
limitação. Nós cristãos, descobrimos um exemplo, Jesus Cristo, que podia muito
bem livrar-se do sofrimento e da morte, porque é Deus, mas não o fez,
enfrenta-o com coragem, porque acredita na vontade e no amor de Deus Pai e Mãe,
que o abraça na vertigem da dor e da morte, para o ressuscitar ao terceiro dia.
Não quer isto dizer que o crente deve ser um masoquista, um submisso, não, pelo
contrário, o crente é um inconformado perante o sofrimento e a morte. Não se
deixa abater por essa limitação e abre o seu coração à grandeza de Deus e
confia que de qualquer forma participará um dia dessa glória.
Neste âmbito o
grande ficcionista católico de meados do século XX, Flanerry O’Connor, disse-o
bem, e melhor do que muitos. Numa carta de 1959, dizia o autor: «O que as
pessoas não percebem é quanto a religião custa. Elas pensam que a fé é um
grande cobertor eléctrico, quando, claro, ela é cruz. É muito mais difícil
acreditar do que não acreditar». A fé sendo essa opção interior que se abre ao
mistério, desafia para a coragem e para a força com que enfrentamos os males
desta vida, sem alienação, mas com esperança.
A fé não é uma
«novocaína espiritual», mas um caminho, uma opção de vida que faz entrar na
profundidade de um mistério que enforma a vida toda. Obviamente, que a fé não
nos dá garantias. Pode até dar-nos mais dificuldades e mais embaraços para a
vida. Mas a mulher que concebe uma criança e a dá à luz também não tem
garantias nenhumas do que pode vir a ser daquela criança, no entanto, avança,
mergulhada no sofrimento e em toda a trabalheira que dá criar uma pessoa.Sem qualquer garantia aposta no futuro que a vida lhe oferece. Neste contexto
percebemos que sem cruz não há ressurreição. O crente, nunca desiste resiste. Acreditar
é isso…
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