O que a fé não é (3)
A fé não é uma ideologia
Antes de mais eis a
definição do que é uma ideologia: «Conjunto de doutrinas ou crenças que formam
a base de um sistema político, económico ou de qualquer outra natureza» (tirado
de um dicionário).
A fé não é o que
qualquer doutrina, dogma, ideia, norma… pretenda circunscrever, porque se assim
for, todos aqueles que vivem de acordo com tais parâmetros e os impõem aos
outros, não aceitarão mais nada que esteja fora desse âmbito de pensamento. A
variedade de pontos de vista, de perspectivas, de atitudes, de opções e de pensamentos
que a fé sempre implica e daí a sua riqueza, não serão aceites por aqueles que
defendem a fé dentro dessa redoma pessoal ou do grupo.
Quando a fé se torna
ideologia a vida fica mais pequena, não há espaço para uma visão pluralista da
existência e do mundo. Por isso, o mais pequeno sinal diferente da fé ideologia
que se concebe torna-se diferente, errado ou falso. Está justificada a razão do
combate a realizar. Quando assim se procede é ver a insegurança, o sofrimento e
a morte que se semeia no mundo. Ai meu Deus quantos conflitos absurdos em nome
da fé já foram e serão realizados. Eis uma cegueira que ainda persiste em
tantas mentes humanas na actualidade.
Tudo isso resulta
quando a fé se torna uma ideologia ou doutrina em nome do poder instalado porque
não se permite a variedade teológica e, eventualmente, quando o pensamento que
não esteja dentro dos princípios que se delineou para definir o que é a fé,
assim sendo, facilmente o tal poder encontra razões para impor o silêncio, o
saneamento de pessoas e a proibição do acesso de alguns à comunhão fraterna.
Daí ainda se ouvir
falar, vergonhosamente, nos nossos tempos de teólogos que foram banidos,
silenciados ou excomungados porque ousaram sair das interpretações oficiais e
oficiosas sobre o que «alguns» desejam que seja a fé. O pensamento livre, é um
perigo, alguns assustam-se com isso e melhor será imporem o que entendem ser o
pensamento de Deus e a acção do Espírito Santo. Esta fé não serve.
Esta fezada que resulta
de uma ideologia não constrói a vida nem muito menos está ao serviço do
Evangelho de Jesus Cristo, que sempre nos convoca para a diferença e para o
respeito da pluralidade.
A fé não se resume a um
dogma, ou a uma única definição do catecismo, ela leva para uma experiência
viva quanto ao rico tesouro da mensagem da salvação, que no nosso caso (cristão)
está na práxis do nosso Mestre Jesus Cristo. Assim, como Pedro nos alerta para
estarmos sempre prontos, a não vacilar diante de tantas doutrinas e interpretações
de um mundo frio, calculista, vivendo sob o império do poder que domina os
fracos, dz-nos: «Estai sempre prontos a responder para a vossa defesa a todo
aquele que vos pedir a razão da vossa esperança, mas fazei-o com suavidade e
respeito» (1Pe. 3,15).
Eis a nossa fé que não
que deve ser vivida na liberdade e no respeito pelos os outros. Uma fé que nos
anima para a militância na luta constante pela justiça, porque se descobre uma
relação pessoal com um transcendente que liberta e que repugna tudo o que sejam
meios e formas de opressão da dignidade humana. Por esta fé empenhada,
consciente e esclarecida é que vamos, isso nos basta!
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