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sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Agora e na hora da nossa morte

Porque vem aí o dia 2 de Novembro, dia de Todos os Fiéis Defuntos... Serve, então, para pensarmos um pouco sobre a nossa finitude. Mas não muito... É sempre melhor e mais saudável pensar na vida.
A morte gera muita hipocrisia, muita dor/sofrimento, muita vaidade e até muita fantasia. Porém, é um caminho destinado a todos, ninguém, felizmente, está livre desta caminhada. Esta é a maior e mais segura certeza da vida. Felizmente, ninguém escapa a ela. Nós cristãos ao olharmos os santos, encontramos um manancial de liberdade perante a morte. Os verdadeiros santos souberam acolher a morte como uma graça e como um dom. São Paulo foi tão elucidativo sobre o seu desejo profundo de se libertar deste mundo para entrar na comunhão plena com Deus, quando já sentia a sua vida plenamente fundida em Cristo: «já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim». Victor Hugo, autor de os "Miseráveis", sentiu a finitude não como uma tragédia irremediável, mas, afinal, como um começo. Disse: "morrer não é acabar, é a suprema manhã".
Deste modo, a morte é o horizonte mais certo que a vida contém no que diz respeito à libertação da miséria toda desta vida. Por isso, ninguém devia fazer da vida deste mundo uma preparação para a morte, porque a morte deve ser encarada como mais um momento da existência entre os infindos momentos que a vida deste mundo contém. A morada eterna não está no cemitério, porque este lugar é o depósito dos "restos mortais" (não é assim que dizemos em relação aos defuntos?), por isso, o verdadeiro culto em relação à multidão dos santos de Deus não se deve fazer aí nos depósitos dos "restos mortais", mas antes e provavelmente na memória que cada pessoa guarda no seu interior, o verdadeiro lugar de Deus.
 Num belo livro de poesia de Pedro Tamen podemos ler: «Ela não existe – nós existimos nela. / E faço este discurso envergonhado / (mas algo hei-de dizer enquanto sinto / que não é o meu fim que ali se encontra / mas o princípio) como quem senta / o rabo na borda da cadeira e escorregando / se afunda lentamente pelo chão: a viagem / é essa, esse é o rio – ou ela». Mas também José Gomes Ferreira soube definir muito bem a fórmula que nos permite olhar a morte com o seu verdadeiro sentido: «os pássaros quando morrem caem no céu». Como aprenderam facilmente os santos a pensar assim sobre a morte. E nós, que podemos também ser santos já aqui e agora, como pensamos a nosso fim um dia neste mundo?

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