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quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Questionário do Papa Francisco para o Sínodo sobre a Família (II)

Segue-se o grupo dois do questionário da III Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos - Documento preparatório... Não levem muito a sério as minhas respostas, são o meu contributo baseado no pouco que sei sobre esta temática e sobre alguma experiência que já vou tendo nas lides pastorais. 

QUESTIONÁRIO (II)

Grupo 2. Sobre o matrimónio segundo a lei natural
a) Que lugar ocupa o conceito de lei natural na cultura civil, quer nos planos institucional, educativo e académico, quer a nível popular? Que visões da antropologia estão subjacentes a este debate sobre o fundamento natural da família?
- A lei natural, também conhecida por Lei Divina é a lei que trata de todas as coisas que amparam o crescimento humano e espiritual do Homem conduzindo-o ao bem e à felicidade. Ela regula todos os acontecimentos no universo. São leis eternas, imutáveis, não estão sujeitas ao tempo, nem à circunstância, embora tenham em si o elemento do progresso.
Penso que a lei natural está bem presente no coração das pessoas em geral. Ninguém duvidará que o melhor caminho para gerar, cuidar e educar pessoas será no seio familiar. Porém, as circunstâncias temporais e históricas foram ditando alguma desconsideração em relação à lei natural o que proporcionou uma também uma desvalorização muito grande do fundamento natural da família. Algumas políticas facilitadores do divórcio e outras ainda contra a família, nomeadamente, a sobrecarga de impostos e os cortes financeiros em relação à geração e educação dos filhos. A conjuntura actual ao nível institucional, educativo, académico e popular está marcada por uma desvalorização do ambiente familiar. Não se educa para o ser mais e melhor família. Poucos pensam nisso. Porque nunca se viu muitos a se estudarem para verem se servem ou não para constituir família.
Não há pois hoje uma antropologia subjacente no debate sobre o fundamento natural da família como veio a ser referido por Thomas Hobbes (1588-1679) quando afirma «que a aplicação da lei natural, conhecida como lei áurea consiste em, ‘Não fazermos aos outros o que não gostaríamos que fosse feito a nós’». A forte concorrência do nosso mundo, o relativismo radical e a luta frenética do mundo da economia e da finança desumanizou as pessoas e daí adveio um conjunto de contra valores que destruíram o fundamento natural da família e quiçá o equilíbrio psicológico e espiritual dos homens e das mulheres do nosso tempo.

b) O conceito de lei natural em relação à união entre o homem e a mulher é geralmente aceite, enquanto tal, por parte dos baptizados?
- Podemos considerar que no geral os baptizados aceitam o conceito de lei natural na união entre o homem e a mulher. Porém, as contingências da vida concreta, as seduções da vida do mundo de hoje, o deslumbre perante a diversidade e a pluralidade dos tempos modernos, sempre ocupam e tomam conta dos corações dos homens e das mulheres, desviam-nos da radicalidade do amor e das promessas que realizaram um ao outro no momento da consagração da sua união. No entanto, queremos crer que a multidão que acredita no conceito de lei natural em relação à união entre o homem e a mulher ainda está muito vivo e é forte no coração de alguma humanidade cristã dos nossos tempos.    

c) Como é contestada, na prática e na teoria, a lei natural sobre a união entre o homem e a mulher, em vista da formação de uma família? Como é proposta e aprofundada nos organismos civis e eclesiais?
- A contestação em relação à lei natural sobre a união entre o homem e a mulher, sempre aparece, de forma prática, quando os casamentos falham. Pois, quando a falta de diálogo, a incompreensão a todos os níveis, as traições e a perda de confiança se sentaram à mesa das famílias a contestação e o desencanto crescem. Na teoria, não faltam pensamentos mais ou menos estruturados para fundamentar a contestação contra a família dita tradicional ou normal. A inconsistência de dinâmicas educativas quer no interior das nossas famílias quer nas escolas, que não prepararam devidamente pessoas para a assunção de compromissos duradoiros, o que conduz a uma descontração e a uma falta de interesse em salvar o matrimónio e a família.
Nos organismos civis, não consta que existam lugares e formas de educação, formação e preparação das pessoas para formarem família. Faz falta a este nível escolas que ensinem os jovens a aprenderem a formar e manter a família. Ao nível eclesial, algo ainda vai sendo feito, nas várias reuniões de preparação para o matrimónio, nos cursos de preparação para o matrimónio (CPM’s) e dentro das várias celebrações litúrgicas sempre são feitos alertas e apresentadas propostas para que as pessoas reflitam e estejam cientes do que devem fazer para serem verdadeira família.    

d) Quando a celebração do matrimónio é pedida por baptizados não praticantes, ou que se declaram não-crentes, como enfrentar os desafios pastorais que daí derivam?
- A celebração do matrimónio pedida por baptizados não praticantes ou não-crentes, acontece com alguma frequência. Em primeiro lugar, parece-me que o caminho a seguir deve ser o do respeito e do acolhimento com simpatia e misericórdia, para que o diálogo não fique desde o primeiro momento inquinado. Logo depois, à medida que a franqueza do diálogo se vai fazendo, criando-se espírito de amizade, podemos e devemos apontar caminhos para que os nossos interlocutores despertem para a necessidade da vida espiritual e para a consequente necessidade de procurarem alimento na vida da Igreja. Obviamente, que para tal não deve existir qualquer sombra de coação, mas sempre com o maior respeito amigo e dentro dos parâmetros da liberdade.     

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