Não acredito que se a humanidade não
fosse naturalmente boa já teria desaparecido há muito tempo. Todos dizem e eu
sei, vemos e sentimos muito mais todo o mal que existe no mundo. As coisas
estão todas organizadas nesse sentido, para que o mal se propague, a maldade
seja regra quotidiana. Mas no meio do oceano imenso do mal, no epicentro da
tragédia, no eixo da fúria e no círculo do ódio emerge uma alma boa, um homem
ou uma mulher que se destacam e, por isso, nos admiramos e comovemos com a sua heroicidade
ou com a luz de um gesto, de uma palavra e uma atitude que deixou de pensar em
si para dar lugar ao outro.
É disto que nos esquecemos tantas vezes.
Mas é com isto que podemos afirmar seguramente, a humanidade é boa. Cada pessoa
pode ser desconcertantemente boa se der lugar à bondade e à compaixão.
Obviamente que o que dói nunca mais se
esquece. O que é erro sobressai com mais evidência e corre veloz como uma
gazela nos prados de janeiro debaixo do sol ofuscado e irrelevante pelo frio do
inverno.
Sempre nos falta alguma serenidade para
nos segurarmos no pensamento próprio, na convicção das ideias e dos ideais pessoais
para que nos salte à vista o que está lá, mesmo que num pequeno ponto, num
pequeno sinal, num gesto que entra por uma brecha por uma porta que se entre
abriu.
Nada está perdido. Dizemos milhentas vezes.
Mas milhentas vezes somos fracos e milhentas vezes nos contaminados com o
veneno do absurdo que é a vida e o mundo. Mas nada nos é mais certo do que
isso, a humanidade há muito que teria desaparecido se fosse a sua propensão
naturalmente boa, mesmo que seja apenas e só naquela criança que verteu uma
lágrima de emoção e sorriu, porque alguém veio ao seu encontro deitou-lhe nas
mãos uma estrela que tinha apanhado com amor. Sejamos então reanimados na
esperança sempre.
1 comentário:
Bom dia!
Um belo texto!
Um dos seus melhores, na minha opinião.
Obrigada pela partilha
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