A
partilha é a manifestação mais bela quando o coração se deixou irrigar por um
sorriso de amor diante da necessidade do outro que se impõe na passagem do
quotidiano da vida.
Às
vezes não é fácil rasgar a veste que nos cobre o corpo e deixar-se ficar pela
metade, depois de ter oferecido a outra metade ao pobre ou ao amigo que pede um
sinal de partilha. A vida será mais fecunda se todos nós permitirmos que a
partilha se expresse não apenas pelas vestes e pelos géneros alimentares ou
outros. A partilha expressa-se pelo sorriso e pela palavra de saudação que se oferece
no face a face que passa pelo caminho. Nesse entrecruzar de rostos diariamente podemos
e devemos manifestar que é possível a partilha, que nessa medida se torna
alimento essencial para a fraternidade e melhor ainda para percebermos que
somos semelhantes, carne e osso da mesma massa. Esta luz iluminará o mundo, a
vida e será o remédio seguro para a paz.
Um
certo dia uma jovem estava à espera da hora do seu voo numa sala de embarque de
um aeroporto. Como tinha várias horas para esperar, resolve comprar um livro
para ler e não sentir tanto o tempo que tinha de espera. Também comprou um
pacote de biscoitos.
Num
recanto da sala de espera, encontrou uma poltrona onde podia estar reservada e
em paz a ler o seu livro. Ao seu lado sentou-se também um homem. Entre os dois
estava o pacote de biscoitos, ele tirou o primeiro, o homem também tirou. Ficou
indignada, não disse nada e pensou para si: «este homem é um sem vergonha. Se
eu tivesse mal disposta, enfiava-lhe um soco na cara que ele nunca mais esqueceria
do seu atrevimento».
A
cada biscoito que ela tirava, lá ia ele também e tirava um. Aquilo deixava-a
cada fez mais furiosa, mas não conseguia reagir. Por fim, restava apenas um
biscoito, ela pensou: «o que será que este sem vergonha vai fazer agora?». O
homem delicadamente dividiu ao meio o último biscoito, deixando a outra metade
para ela. Aquele gesto deixou-a ainda com mais raiva. Chegada a hora de
embarque, dirigiu-se para o seu voo, quando estava sentada confortavelmente no
seu assento, para surpresa sua, o seu pacote de biscoitos estava dentro da sua
bolsa.
A
jovem ficou muito envergonhada, pois quem estava errada era ela e já não tinha
mais tempo para pedir desculpas. O homem dividiu os seus biscoitos sem se sentir
indignado, enquanto ela tinha ficado fora de si. Tomei conhecimento desta
história há tempos. Não tinha autor que a assinasse, achei curiosa e importante
para nos ensinar que a partilha faz-se no silêncio sem nos indignarmos com o
que os nossos olhos vêm, mesmo que seja uma realidade que não nos agrada.
Quantas
vezes na nossa vida andamos a comer os biscoitos dos outros e não temos
consciência disso? – Há sempre pessoas que procedem de modo diferente daquele
que nós pensamos e esperamos. Isso até pode tirar-nos a calma e dar-nos a
impressão de que ninguém gosta de nós. Quando tal acontece, manifesta que
estamos ainda muito fechados sobre nós mesmos, loucos para ter o ego satisfeito
e nada mais importa. Se assim andamos, é preciso transformação pessoal.
É
preciso dar mais e estar menos preocupado em receber mais. Quem dá receberá cem
vezes mais. O receber por acréscimo é uma realidade que está garantida
naturalmente e transcendentalmente. Só assim podemos transformar o mundo, se
essa mudança começar antes por nós mesmos. Partilhar é fácil. Basta que se tenha
a certeza de que a alma da vida e do mundo está dentro desse simples valor.
Para isso é preciso que tenhamos o coração dos outros na palma das nossas mãos.
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