«Deus e eu», esta semana com o nosso amigo Bernardo Trindade. Acompanho o Bernardo há muito tempo, quer ao nível da sua actividade política, quer no domínio empresarial (PortoBay Hotels&Resorts) e há alguns anos a esta parte o seu percurso religioso. Daí que a este nível, hoje ofereça-nos um escrito exclusivo para esta rubrica do Banquete e para que os leitores deste espaço possam saborear um pouco da sua surpreendente «biografia religiosa» (para utilizar uma expressão sua)... O seu testemunho sai para nós muito oportuno, em tempo de Quaresma, pois é ocasião propícia para sermos confrontados com a necessidade do perdão, para «sabermos que apesar de perdoados devemos continuar a sermos melhores. Melhores com o outro». Muito bonita a sua reflexão-testemunho. Um muito obrigado. Ah... Já me esquecia, é um fervoroso adepto do Sporting.
Bernardo Trindade
Exortado
pelo amigo Padre José Luís Rodrigues, aqui vai um pequeno testemunho sobre o
meu relacionamento com Deus. Não pretende assumir qualquer carácter educativo
ou dogmático mas tão só a partilha, neste metro quadrado, de uma visão, da
minha visão sobre a minha relação com Deus.
Para
isso importa que desvendemos um pouco a nossa “biografia”, a nossa biografia
religiosa: fui batizado muito novo, como aliás a grande maioria de nós, mas, a
partir daí, não cumpri mais nenhum sacramento, não cumpri, até aos 40 anos.
Sim, aos 40 anos, por influência de um amigo especial e por estar a passar por
uma fase diferente em termos profissionais, fui convocado a olhar para a vida
de uma forma diferente. Como tão bem recorda Ortega & Gasset, nós somos nós
e a nossa circunstância, e a minha circunstância determinou essa aproximação a
Deus. Devo dizer, no entanto, que apesar do cumprimento dos sacramentos da
comunhão e do crisma, a relação que tenho com Deus é tudo menos dogmática, é
exigente, tem muitos altos e baixos, e é sobretudo assente na necessidade de me
descentrar de mim próprio e olhar com cuidado para todos os que connosco se
cruzam.
A
minha relação com Deus, é uma relação liberal nos valores, é uma relação diria
do séc. XXI, é uma relação que parte da nossa condição frágil de quem falha,
falha tantas vezes, falha todos os dias. É uma relação com dúvidas, tantas, mas
que no final é reforçada pela nossa condição de agir diferente. De agir olhando
para o outro.
É
uma relação que vive num ambiente confortável da misericórdia de Deus. Do
perdão face à nossa condição terrena de pecadores, e de sabermos que apesar de
perdoados devemos continuar a sermos melhores. Melhores com o outro.
Lembro-me
todos os dias da personagem Kijiro do filme Silêncio de Martin Scorsese. Ele
Kijiro que tantas vezes renunciou a Deus para se salvar, teve sempre a
misericórdia de Deus. Não tendo sido obrigado a renunciar o que quer que fosse,
sinto-me tantas vezes Kijiro. Uma condição frágil repleta de dúvidas, mas com o
objetivo de atingir um dia o plasmado no salmo do evangelho:
“O
Senhor é meu pastor, nada me faltará “
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