Deus e eu
Isabel Cardoso, com texto exclusivo para o leitores do Banquete da Palavra. Obrigado Isabel, por esta viagem à sua interioridade. Valeu...
Antes de tudo, Tu estavas comigo.
Sabia-Te comigo. Eramos um só. A Tua ternura guiava a menina que eu era. Não
havia ruído, só o Teu silêncio. Não havia ruído, só a alegria e a Esperança.
Quando os ruídos aumentaram, a Tua voz foi ficando distante, pelo menos,
parecia-me que ecoava, cada vez, mais longe. Os ruídos fazem parte do crescer e
no meio das coisas inúteis a que atribuímos tanta importância, esqueci-me,
muitas vezes, de Te ouvir. Falávamos mas andava tão entretida a usar de soberba
com a Vida que as nossas conversas caíam no esquecimento. Mas Tu ficaste sempre
lá. Fazias-Te presença no riso dos meninos, na imensidão do céu, na
profundidade do mar, nas palavras dos sábios e dos inocentes, no grito do
próximo, à mesa com os aflitos. A Tua voz nunca se impõe e houve momentos em
que escolhi não ouvi-La ainda que Te soubesse lá. Reconhecia-Te no sopro do
vento, na música e na poesia, na lágrima que se partilha, na mão que se
estende, no hálito do recém-nascido, nos sonhos que se comungam, no olhar dos que
estão preparados para partir. Por tudo isso, queria ser participante na
construção do Teu Reino e buscar a Tua Justiça mas fui mais a filha pródiga do
que a comungante da Tua promessa. Agradecia-Te as dádivas distraidamente.
Perdoa-me, afinal, não sabia verdadeiramente que conheces todos os caminhos e
todas as necessidades e que a todos ofereces, sem condições, o Teu Amor.
Cobardemente cheguei a zangar-me Contigo. Quando a amargura e a tristeza me
visitaram, a Tua presença fez-se fraternidade. A Tua misericórdia trouxe-me de
regresso a casa. Tu estás sempre aqui. Já não temo tanto as fraquezas e as
falhas, sei que nos amas nas imperfeições. Tento abafar o ruído e ouvir-Te.
Tento. Tento pela Fé, na Esperança, aceitando o Teu Amor. Tento.
Isabel Cardoso
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