Publicidade

Convite a quem nos visita

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Os vencidos do catolicismo

1. Não ser cristão como quem vive de uma recordação vai desaparecendo a pouco e pouco, para cada um ser fiel à responsabilidade que o estatuto de filho de Deus confere e que São Paulo exprime: «Se somos filhos, somos também  herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo» (Rom 8, 17). Quem diz herdeiro, diz continuador da missão, da vida.
2. Esta nova visão deve ser esclarecida em todos na Igreja, mas de modo especial na hierarquia eclesiástica a quem compete guiar os fiéis à santidade. Dela deve vir o impulso que permitirá a muitos cristãos desestabilizados a fazerem o funeral do mundo do qual se sentem órfãos e reencontrarem o dinamismo inscrito no centro da sua fé.
3. Os psicólogos verificam todos os dias que os traumatismos sofridos pesam muito, mas mais grave ainda é o seu recalcamento. A dor aumenta quando a pessoa atingida não pode manifestar o seu sofrimento e não tem quem a oiça com atenção. É importante que os cristãos possam manifestar o seu descontentamento e o seu desgosto, a sua impaciência e, por vezes, a sua raiva.
4. Por isso, renovarem-se e saírem do sofrimento faz supor que se purificaram interiormente em relação à crise, o que implica terem sido ouvidos. A hierarquia deve continuar a ver chegar-lhe esta queixa por vezes difícil de escutar. Mas deve compreender que é também sua tarefa acolher os decepcionados (ou os «vencidos do catolicismo» como diria Ruy Cinatti e tantos outros irmãos que se desencantaram com a Igreja ou que simplesmente foram esquecidos por ela) com a Igreja, os desencantados com os tempos, aqueles que a história recente afastou, aqueles que se inquietam com os progressos do mundo. Interessar-se-á por compreender a angústia da alguns cristãos e as suas interrogações. Preocupar-se-á com o acolhimento benevolente tanto das tentações de recuar, como das tentativas de experimentar. Sobretudo, saberão confiar na armadilha de uma atitude de defesa orgulhosa de um equilíbrio passado que se desfaz sem que a isso se possam se opor.
5. No fundo, basta não marginalizar ninguém e centrar toda a missão evangelizadora no acolhimento de todos como irmãos, numa atitude de humildade e desprendimento. Uma Igreja interessada só em bens deste mundo não tem futuro e tem os dias contados. Por isso, requer-se uma Igreja que ponha em prática a expressão tão conhecida e badalada do Papa João XXIII, «a Igreja, deve ser Mãe e Mestra». Mais deve a Igreja toda estar ciente da palavra do Evangelho: «toda árvore boa produz bons frutos, enquanto a árvore de má qualidade produz maus frutos. Uma árvore boa não pode dar maus frutos, nem uma árvore de má qualidade pode dar bons frutos» (Mt 7, 17-18).

Sem comentários: