Comecemos
pelo temor de Deus. É o primeiro sentimento diante do sagrado. O homem sente-se
ultrapassado pela grandeza de Deus, ele sente-se com medo, estonteado. Este
temor não é a do homem primitivo que teme a tempestade e todos os fenómenos
naturais, não é um temor servil por medo a uma punição, mas sim uma espécie de
perceção intuitiva da grandeza de Deus e dos nossos limites, uma atração e um
recuo, um convite a exceder estes limites para nos juntarmos ao nosso criador.
Compreendemos, então, porque é que este dom do Espírito que é o temor de Deus,
se aproxima da primeira bem-aventurança: «Bem-aventurados os pobres em
espírito» (Mt 5, 3). É uma mesma atitude que está implicada nos dois casos e
que nos leva a compreender e a testemunhar que recebemos a nossa vida do nosso
criador, que nos recria sem cessar.
A
humildade, como dizia o Mestre Eckart, um místico do século XIV, torna-nos
recetivos à vida que Deus nos dá. Tendo consciência dos nossos limites,
descentramo-nos de nós próprios para reconhecer o dom de Deus e fazer brotar em
nós esta «pequena centelha da alma», de que falava também Eckart, que não é
outra senão a vida de Deus em nós. É no momento em que o homem se acha perdido
que se encontra, se constitui e se torna plenamente livre.
In Aliis Tardere
(Imagem Google)
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