A eutanásia, para além de ser um
problema jurídico ou de direito, é antes, uma questão de cultura e de educação
ética fundamental. Isto é, o modo como se encara a vida, refletirá,
inevitavelmente, o modo como se acolherá o sofrimento e a morte.
A morte provocada para aliviar o
sofrimento de doenças incuráveis – eutanásia – enquadra-se no contexto da
cultura de morte e na cultura do pragmatismo tão característicos da sociedade a
atual. Se continuarmos na crescente desvalorização da vida e no encarar a vida
não como uma totalidade que vai até à eternidade, mas apenas como algo
puramente terreno que termina com a morte, estarão, daqui para algum tempo,
reunidas condições psicológicas e sociais para que a eutanásia seja um facto
tão natural como um doente tomar um sedativo para uma dor de dente. Ou expulsa
a vida como se extrai um dente.
Mesmo perante a dureza da dor e diante
da debilidade física, o dom da vida emerge como bem supremo que merece respeito
absoluto. Assim sendo, a morte não é apenas uma inevitabilidade fatal e
dramática, mas um «dom» que confirma a esperança na eternidade da vida.
O nosso tempo marcadamente materialista
e pragmático, perante uma população elevada de anciãos – característica das
nossas sociedades – corre também o risco de se ver cada vez mais na convicção
de considerar os idosos uns inúteis e um fardo para a população jovem
trabalhadora, por isso, a melhor solução será suprimi-los através da pílula da
morte.
Qualquer tipo de eutanásia não soa bem
para quem aposta na vida desde a fecundação até à morte natural. Se a
sofisticação científica dos nossos tempos serve para argumentar-se de que será
um avanço civilizacional defender-se a aplicação da eutanásia para quem a
solicite, serve também o mesmo argumento para defender-se o prolongamento da
vida e o acontecer da morte naturalmente sem dor e com dignidade. A não
existirem tais condições que tratem das pessoas na sua fase terminal, aí sim estamos
perante um retrocesso civilizacional.
Os cuidados paliativos devem ser uma
aposta e deve a sociedade criar todas as condições para que o final da vida
neste mundo seja vista também como um bem e a morte aconteça com a maior
naturalidade e se for possível com o mínimo de sofrimento. Se existirem
elementos científicos para aliviar todo o género de sofrimento devem ser
usados. É do quer de Deus que ninguém sofra e se existirem remédios que travem
o sofrimento devem ser aplicados e nesse domínio devemos dispensar poupanças.
Porém, já não será do quer de Deus que ninguém tire a vida a ninguém, mesmo que
seja protegido pelo crivo da lei ou outra razão deste mundo por mais elevada e nobre
que seja.
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