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quarta-feira, 23 de março de 2016

Os traidores em todos os tempos

Quarta feira da Semana Santa:
Primeiro: Jesus respondeu: «Aquele que meteu comigo a mão no prato é que vai entregar-Me»:
«Vede de que compaixão Cristo dá provas para com Judas, o homem que recebeu tanto amor e, contudo, traiu o próprio Mestre; esse Mestre que manteve um silêncio sagrado, sem o atraiçoar perante os companheiros. Com efeito, Jesus poderia muito bem ter falado abertamente, revelando aos outros as intenções ocultas e os actos de Judas; mas não o fez. Preferiu dar provas de misericórdia e de caridade: em vez de o condenar, chamou-lhe amigo (Mt 26,50). Se Judas tivesse olhado para Jesus de frente, como fez Pedro (Lc 22,61), teria sido amigo da misericórdia de Deus. Jesus foi sempre misericordioso» (Beata Teresa de Calcutá (1910-1997), fundadora das Irmãs Missionárias da Caridade, «Jesus, a Palavra a proferir», cap. 8).
Segundo: «A traição, a inveja, o ciúme, as fantasias demiúrgicas, a cobardia, o medo, o arrependimento, a catarse, a prepotência, o abuso de poder, o conservadorismo e a ritualização vazia de vida, o ódio aos heréticos, a punição dos delitos de opinião, o cinismo, a boçalidade, as gargalhadas alarves, a falta de respeito pelos que sofrem, a instrumentalização, a injustiça, a bondade, a resignação, a solidariedade, o desejo de afectos, a dor, a mágoa, a raiva, a coragem, a determinação. Tantas sensações, tantas memórias, tantas razões de reflexão para todos e para cada um de nós!» (José Miguel Júdice).
Conclusão: A vingança mata em todos os sentidos. Ora vejamos, nenhuma relação será possível dentro do espírito da vingança, a não ser mesmo a intenção de matar e cortar a relação com o outro. Depois da vingança ficam cerceadas todas a possibilidades de encontro, todos os chamamentos ao encontro da festa do amor e da amizade. A acontecer, a vingança, não permite mais qualquer possibilidade de encontro fraterno.
António Damásio, o neurologista, que considera que todas as nossas manifestações e reações estão centradas nas emoções. Este estudioso ensina-nos que toda a maldade (a vingança) é inevitável, existe em cada canto da vida e do mundo. A vingança, a inveja, a raiva, o rancor, o ódio e o orgulho são aspetos «perfeitamente automáticos» - exatamente o que vos referi no início do texto com outras palavras, é claro. Nenhuma pessoa é toda maldade. O mal é o especto ou o momento circunstancial. O melhor para a vida está no saber «viver com a tragédia e o privilégio de ter uma regulação automática, compreender essa regulação, descobrir que há aspectos dessa regulação que são magníficos – que nos levam ao prazer, à alegria – mas também nos podem levar a atos completamente desvairados e à violência», diz o mestre das emoções.
Por fim, a vingança não tem nome na festa da alegria e da felicidade. Por isso, apesar de vermos este espírito comandar muitos homens e mulheres, acreditamos para sempre com Fernando Pessoa: «Tudo vale a pena se a alma não é pequena».

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