A morte é uma realidade inevitável para
todas as pessoas, para todas as famílias. Mais tarde ou mais cedo somos todos
confrontados com um acontecimento desses, é a morte de um familiar, um amigo,
um colega, um conhecido, um vizinho, um chefe, um patrão, um funcionário, uma
pessoa que por qualquer razão passou por nós várias vezes ou algumas vezes no
mundo terreno. Quando esse falecimento nos toca, ficamos tristes e muito
sensíveis. Precisamos de apoio e de palavras que nos consolem e que nos façam
voltar à vida concreta com ânimo e esperança.
Após a morte consomada necessitamos de
um cemitério, para que seja prestado o serviço específico que dê o destino
final à evidência da morte e possamos dar sepultura digna ao defunto. No caso de São Martinho, realizar uma cremação.
No Funchal, temos vários cemitérios,
todos eles tutelados pela Câmara Municipal do Funchal. Há uma política de
cemitérios que serve pouco ou nada as pessoas, os descuidos são confrangedores.
Será que se organiza os cemitérios para servir alguns que lá mandam ou trabalham?
Vejamos então. Os pobres trabalhadores
(vulgo cangalheiros) trabalham que se fartam a virar terras, tábuas (barrotes)
mal amanhadas, que lá virá o dia em que se partem e trambolharão para o fundo
das valas comuns. Estes homens de quem se fala, carregam que se fartam e ao fim
do mês recebem uma ninharia de salário. Assim sendo, mal pagos o serviço não
pode ser melhor e pouca gente pensa nisso.
Em São Martinho e São Gonçalo, os
enterramentos são em valas comuns, como se estivéssemos em guerra permanente ou
como se todos os dias houvesse entre nós um massacre que resulta em centenas de
mortos. Toda a envolvência revela uma imagem apocalíptica, cratera ao cumprido
e montanhas de terras removidas. No mínimo um cenário dantesco.
Os funerais nunca são marcados em hora
mais conveniente para os sacerdotes e famílias, a não ser que venham familiares
do estrangeiro, para essa circunstância há alguma tolerância, de resto é como a
administração do cemitério entende. Não pode, arranjem outro. Às famílias não
lhes convém, não venha. Não deve ser isso que se diz abertamente, mas é o que
se pensa e diz às escondidas.
As marcações de funerais funcionam
assim, só podem ser entre as 13 horas e as 15 horas de meia em meia hora, tipo
um pacote, podem ir além dessas horas quando o pacote já esteja completo ou
quando há cremações, que até há pouco tempo eram feitas dois dias por semana,
uma às 10 horas e outra ao 12.30 horas. Mas, consta que essas regras já foram
quebradas e as cremações passaram a ser todos os dias, inclusive ao domingo a
qualquer hora. Esta anarquia prejudica a vida das pessoas e revela o quanto
andamos distraídos quanto à dignidade e respeito que nos devem merecer os
defuntos. Esta (des)organização, parece beneficiar alguém. Uma sociedade
desorganizada na morte, como não será com as coisas da vida?
Toda esta desordem acontece perante o descuido
e o silêncio dos eleitos, que o povo pôs a mandar durante quatro anos estes serviços
públicos. Mas, acontece também esta bandalheira perante os olhos das Agência
Funerárias, que se calam completamente, mesmo que isso prejudique o serviço que
prometeram cumprir convenientemente, por isso, deviam exigir pessoal
qualificado, bem remunerado, limpeza como deve ser em todo o espaço por onde
passa o funeral, desde a capela até à sepultura. Às taxas cobradas e aos nossos
impostos, devia corresponder um serviço impecável a todos os níveis.
Por fim, convido os eleitos da Câmara do
Funchal, os responsáveis dos cemitérios do Funchal e todo o pessoal trabalhador
a participarem num funeral em qualquer cemitério de Câmara de Lobos. Pode não
ser o serviço ideal, mas muito melhor que o serviço nos cemitérios do Funchal.
O ambiente dentro do cemitério é completamente diferente, a limpeza, o asseio
dos terrenos, dos passeios e das campas, a forma como sepultam os féretros,
revelam bem como estamos em mundos diferentes.
Não posso deixar este texto terminar sem
que faça uma pequena salvaguarda em relação aos cemitérios do Monte e de Santo
António. As sepulturas no terreno são individuais, não têm valas comuns, no
geral estão um pouco melhores que os outros, por isso, algumas coisas aqui
ditas não se aplicam a estes.
E término deste manifesto, faço um
apelo, é preciso acabar com esta insensibilidade geral. Este funcionalismo puro
e duro não se conjuga com um momento tão confrangedor na vida das pessoas, que
as deixa em lágrimas e com os nervos à flor da pele. Por isso, todos os que
estão envolvidos neste serviço da sepultura dos defuntos, devem colocar-se
totalmente ao serviço das pessoas. Não querem, não sabem… Digo-vos o que
frequentemente dizem sobre os padres, quando não pode fazer o funeral na hora
que vossas excelências impõem, procurem outro trabalho, porém, se aceitam este,
qualifiquem-se especificamente para servirem como deve ser um serviço tão sensível
e delicado.
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