Neste dia em que o mundo
celebra a MULHER, sussurra em mim uma vontade de dizer do acervo da
feminilidade e maternidade de Deus. Os nossos tempos precisam muito que esta
teologia se faça valer, porque são muitos os desvios e é abundante a
concentração nas mediações que nada têm que ver com o essencial da fé no «Deus
Todo Poderoso» do credo que encerra em si todas as dimensões da criação. Tudo
que esteja fora deste alcance pode, mesmo que muitos não queiram, ser idolatria
e paganismo.
Há também ao mesmo tempo muita
gente que não lhe interessa, não querem e nunca permitirão que Deus seja
considerado, acreditado, rezado e vivido como Mãe e Pai. O poder patriarcalista
que atravessou os séculos fez da humanidade um reino de dominadores e
dominados. Os principais desses dominados foram e ainda são a multidão imensa das
mulheres. A ideia sempre foi o poder para os homens, a vã glória de mandar, o
domínio, mas os serviços, o trabalho, as lides domésticas, o cuidado dos filhos
e tudo o que fosse trabalho no anonimato pertencia e pertence às mulheres.
Uma nova visão acerca de Deus,
na sua feminilidade e masculinidade, na sua maternidade e paternidade, criaria
uma humanidade mais humana, onde homens e mulheres fariam uma fraternidade,
mulheres e homens convergiriam para o exercício do poder. Na comunhão humana, ambos
os géneros estariam ao serviço de todo o tipo de trabalhos para fazer funcionar
a vida para todos.
Por isso, é urgente entender-se e enunciar que
por Nossa Senhora, Deus «mostrou que
além de ser Deus-Pai é também Deus-Mãe com as características do feminino: o
amor, a ternura, o cuidado, a compaixão e a misericórdia. Estas virtudes estão
também nos homens, mas elas encontram uma expressão mais visível nas mulheres»
(Leonardo Boff).
E neste sentido, no
contexto do sorriso e da postura aparentemente informal que caraterizava o papa João Paulo I, causou surpresa, ao
afirmar que «Deus
é Pai e Mãe». Foi
a 10 de setembro de 1978 na recitação do Angelus. Pelo profeta Isaías
que pergunta: «Não. Acaso, pode uma mulher esquecer-se do próprio
filho? Mas ainda que ela se esquecesse dele, nunca Deus esquecerá o seu povo» (Is 49,15). Então o Papa
garantia: «Somos objeto,
da parte de Deus, dum amor que não se apaga. Sabemos que tem os olhos sempre
abertos para nos ver, mesmo quando parece que é de noite. Ele é Pai; mais
ainda, é mãe. Não quer fazer-nos mal, só nos quer fazer bem, a todos. Os
filhos, se por acaso estão doentes, possuem um título a mais para serem amados
pela mãe. Também nós, se por acaso estamos doentes de maldade, fora do caminho,
temos um título a mais para que o Senhor nos ame».
Deus é espírito e, por isso, os que O
adoram, devem adorá-Lo em espírito e verdade (Jo 4, 24). Deus é
espírito e, como tal, é invisível. Tornou-se visível de forma eminente em
Cristo («Quem me vê, vê o Pai» – Jo 14, 9). Mas Deus torna-se visível em cada
homem e em cada mulher, já que o ser humano foi criado – homem e mulher – à
imagem e semelhança de Deus (Gn 1, 26.27) e de Deus recebeu o mandamento de
crescer, multiplicar-se, encher e dominar a terra (Gn 1, 28). Ser homem e mulher, porque
divinizados, torna-se uma missão em nome de Deus para o mundo, para a vida e
para a humanidade inteira. Como idiossincrasia do homem, sobressai
a paternidade, e como sendo próprio da
mulher, foi-lhe atribuída a propriedade da função maternal (Gn 2,24; 3,30).
Não permitamos que nenhuma mulher seja
descriminada. Pois, cada mulher revela uma dimensão importante de Deus, a feminilidade
e a maternidade, aliás elementos tão importantes para o mundo dos homens e das mulheres, que só
elas podem fazer e partilhar com todos. Vamos reforçar todas as lutas que a
sociedade implementa para que sejam vencidos todos os desequilíbrios entre
homens e mulheres, dentro e fora das Igrejas.
Elas são o sacramento de Deus Pai e Mãe
para toda a humanidade, o melhor caminho que nos
revela e conduz à ternura e misericórdia de Deus. Oxalá, que todas as mulheres
assumam como Maria de Nazaré o seu verdadeiro lugar divino, para que tenhamos
necessidade de que haja um dia especial no ano para nos fazer lembrar que
mulheres e homens são a humanidade realidade única e que estão divinizados pelo
Filho de Deus com a ação do Espírito Santo. Por isso, ambos os géneros merecem todo o
respeito e que os tempos da submissão, escravidão desapareçam para sempre.
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