Vejamos o
contexto dos títulos sensacionalistas que correram mundo sobre o «pedido de
desculpas aos homossexuais» que o Papa Francisco defendeu.
A resposta à
pergunta sobre os gays, feita ao Papa Francisco no avião que o trazia de
regresso ao Vaticano vindo da Arménia, pelo jornalista Cindy Wooden, do Catholic News Service (CNS), agência católica
dos Estados Unidos, tem levantado alguma celeuma. Nada de especial e nada que esteja fora daquilo
que diz o Catecismo da Igreja Católica, aliás, fonte que o Papa faz referência.
Tendo em conta a
importância da resposta que o Papa dá, fica aqui na íntegra a resposta tão
interessante, para que não se fique unicamente pelo sensacionalismo dos títulos
dos órgãos de informação, que por este dias têm feito ecoar, por exemplo,
apenas e só sem qualquer contexto o seguinte: «Papa diz que a Igreja deve pedir
perdão aos homossexuais» ou ainda: «Papa defende que a Igreja deve pedir perdão
aos gays» e «Papa defende que a Igreja deve pedir desculpas aos homossexuais»…
Reparemos na frase na íntegra do Papa Francisco que reproduzo em baixo na
resposta à pergunta: «Eu creio que a Igreja não só deve pedir desculpas – como
disse aquele cardeal "marxista" ... [risos] – a essa pessoa que é
gay, que ofendeu, mas também deve pedir desculpas aos pobres, às mulheres e às
crianças exploradas no trabalho; deve pedir desculpas por ter abençoado tantas
armas. A Igreja deve pedir desculpas por não ter-se comportado tantas e tantas
vezes – e quando digo "Igreja" entendo os cristãos; a Igreja é santa,
os pecadores somos nós! – os cristãos devem pedir desculpas por ter acompanhado
tantas escolhas, tantas famílias».
Só há uma coisa
que me faz alguma confusão. Penso que não haverá instituição nenhuma que
respeite mais os homossexuais que a Igreja Católica. Desde sempre a religião
tornou-se um refúgio para os efeminados. As famílias nobres tinham essa
alternativa bem determinada quando alguns dos seus membros manifestavam sinais
nesse sentido. Os seminários e os conventos foram opções seguras para que o
escândalo não rebentasse.
Mas a emancipação
da sociedade, o domínio da informação, a perda de influência da Igreja Católica
sobre a vida social e a mudança de mentalidades permitiram que todas as
misérias de seminários, conventos e colégios viessem a lume. Hoje, tudo está
mais esbatido. Mas ainda assim a Igreja Católica continua a ser lugar que
abriga muitos homossexuais. Não sou contra. Sou pela tolerância e o que se
exige aos heterossexuais, seja também exigido aos homossexuais, porque bastas
vezes se nota que há maior tolerância para os gays e menor ou nenhuma tolerância
para os heterossexuais. Exemplos neste sentido não nos faltam.
Por fim, recordo
um saudoso Director Espiritual, que convictamente ensinava, «quem não serve para
o matrimónio não serve para o sacerdócio». A mensagem do Papa Francisco tem
sido clara quanto a este especto e tem vindo sempre neste sentido.
A pergunta e a resposta sobre os homossexuais:
Obrigada
Santidade. Nos últimos dias, o Cardeal alemão Marx, falando durante uma grande
conferência muito importante em Dublin, sobre a Igreja no mundo moderno, disse
que a Igreja Católica deve pedir desculpas à comunidade gay por ter
marginalizado essas pessoas. Nos dias seguintes ao massacre de Orlando, muitos
disseram que a Comunidade cristã tem algo a ver com este ódio contra essas
pessoas: o que o senhor acha disso?
Papa Francisco: Vou
repetir o mesmo que eu disse na primeira viagem e repito também o que diz o
Catecismo da Igreja Católica: que não devem ser discriminados, que devem ser
respeitados, acompanhados pastoralmente. Se podem condenar, não por razões
ideológicas, mas por motivos – digamos – de comportamento político, certas
manifestações um pouco muito ofensivas para os outros. Mas essas coisas não têm
nada a ver com o problema: se o problema for uma pessoa que tem essa condição,
que tem boa vontade e que busca Deus, quem somos nós para julgá-la?
Devemos
acompanhar bem, de acordo com o que diz o Catecismo. O Catecismo é claro!
Depois, há tradições em alguns países, em algumas culturas que têm uma
mentalidade diferente sobre este problema. Eu creio que a Igreja não só deve
pedir desculpas – como disse aquele cardeal "marxista" ... [risos] –
a essa pessoa que é gay, que ofendeu, mas também deve pedir desculpas aos
pobres, às mulheres e às crianças exploradas no trabalho; deve pedir desculpas
por ter abençoado tantas armas.
A Igreja deve
pedir desculpas por não ter-se comportado tantas e tantas vezes – e quando digo
"Igreja" entendo os cristãos; a Igreja é santa, os pecadores somos
nós! – os cristãos devem pedir desculpas por ter acompanhado tantas escolhas,
tantas famílias.
Lembro-me quando
era criança da cultura de Buenos Aires, a cultura católica fechada: Eu venho de
lá... em uma família divorciada não se podia entrar na casa: eu estou falando
cerca de 80 anos atrás. A cultura mudou e graças a Deus, como cristãos, devemos
pedir tantas desculpas, não só sobre isso: o perdão e não apenas desculpas!
“Perdão Senhor”!, é uma palavra que nos esquecemos. Agora eu sou um pastor e
faço o sermão... Não, isso é verdade! Muitas vezes o "padre patrão" e
não o "padre pai": o padre que bate e não o padre que abraça, perdoa,
consola. Mas há muitos, muitos capelães de hospitais, capelães de prisioneiros:
tantos santos, hein! Mas esses não são vistos, porque a santidade é
"pudorosa" [tem pudor], está escondida.
Em vez disso, é
um pouco sem vergonha a falta de pudor: é flagrante e se faz ver. Muitas
organizações com pessoas boas e não tão boas: ou pessoas às quais você dá uma
"bolsa" um pouco grande e olha para o outro lado, como as potências
internacionais com os três genocídios.
Também nós, cristãos –
sacerdotes, bispos – fizemos isso: mas nós cristãos temos também uma Teresa de
Calcutá e muitas Teresas de Calcutá; temos muitas irmãs na África, muitos
leigos, muitos matrimónio santos. O trigo e o joio; o trigo e o joio... não
devemos nos escandalizar de sermos assim. Devemos rezar para que o Senhor possa
fazer que esse joio acabe e que haja mais trigo. Mas esta é a vida da Igreja.
Não se pode colocar um limite. Todos nós somos santos, porque todos nós temos o
Espírito Santo dentro, mas somos – todos nós – pecadores. Eu por primeiro. De
acordo? Obrigado. Eu não sei se respondi... Não só desculpa, mas perdão!
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