A frase do Papa Francisco suscitou-me
esta reflexão. Antes de tudo sublinho já, tomara que esta loucura desenfreada
pelo dinheiro e pelo poder fossem coisas só destas bandas eclesiásticas...
Vamos à frase: "Também na Igreja,
há aqueles que em vez de servir, de pensar nos outros, de estabelecer as bases,
se servem da Igreja: os carreiristas, os apegados ao dinheiro. E quantos
sacerdotes, bispos vimos assim. É triste dizer isso, não? A radicalidade do
Evangelho, do chamamento de Jesus Cristo: servir, estar ao serviço de, não
parar, ir ainda mais longe, esquecendo-se de si mesmo. E o conforto do status:
eu atingi um status e vivo confortavelmente sem honestidade, como os fariseus
de que fala Jesus, que passeavam pelas praças, para serem vistos pelas pessoas”
(Papa Francisco, homilia da missa na Casa Santa Marta, 06/11/2016).
É muito verdadeira a frase do Papa
Francisco. Mas é uma face da moeda ou um bico de uma realidade com vários
bicos. Está feita e bem feita a denúncia. Ao Papa, e não só, compete falar
assim abertamente e com coragem. A dimensão profética exige, que olhemos para
fora e para dentro, lendo o bem e o mal que nos rodeia. Nada é mais honesto que
isto.
Porém, também será necessário lembrar
que a corrida frenética de muito clero pelo poder, pelos títulos e pela
importância que o topo da hierarquia católica confere, nunca deixarão de
existir, sem que a própria Igreja Católica deixe de ser uma hierarquia
piramidal para se tornar uma hierarquia circular. Assim, devia caber hoje ao
Papa Francisco dar passos nesse sentido. Mas muito pouco de concreto nesse
sentido se tem visto. Há o seu exemplo, o seu apelo, o seu discurso. Mas
vontade de mudança com pessoas e medidas concretas que ajudassem nesse sentido
pouco ou nada há. Esta constatação, faço-a com muita pena, porque o Papa
Francisco, pode, fatalmente, revelar-se mais tarde ou mais cedo uma
oportunidade perdida.
Explico-me. É ao Papa (tomara que muitos
dos nossos bispos lhe tomassem o exemplo) que compete denunciar como faz muito
bem o Papa Francisco, mas também compete a ele tomar medidas para que tais
apetites não façam sentido acontecer e sejam ridículos perante a fraternidade
nessa tal Igreja Católica do ideal evangélico. Enquanto não for uma comunidade
de irmãos e irmãs iguais entre si, a Igreja será sempre o último reduto de um
império onde vai continuar acontecer a loucura pela subida hierárquica e haverá
sempre muitos que se servirão da Igreja ao invés de a servirem. As estruturas fortemente
hierárquicas e fechadas à fraternidade e igualdade entre fiéis permitem sempre
é inevitavelmente essa luta frenética pelo poder, pelos títulos e pela
importância.
É tão difícil que a loucura pelo
dinheiro não aconteça porque é também esta mesma Igreja Católica que faz tão
pouco pelos seus sacerdotes quando ficam doentes e idosos. Provavelmente, não
faltarão muito maus exemplos a este nível na Igreja Católica, a começar entre
nós. Essa insegurança e falta de garantias futuras, fazem com que os sacerdotes
se vejam tentados pela obsessão pelos bens materiais e quando essa obsessão é
cega provoca escândalo e prejudica gravemente a imagem da Igreja.
Neste sentido, são lógicas e
consistentes as denúncias do Papa Francisco neste domínio dos apetites pelo materialismo
do clero e a fome pelo poder ou pela importância que os cargos e títulos
eclesiásticos conferem. Mas, como consequência disso, esperamos que o Papa
implemente medidas, para que toda a Igreja se torne mais fraterna e inclusiva em
todos os seus aspectos. Não cabe aqui uma Igreja que recusa a transparência e a
abertura ao diálogo com os fiéis. Oxalá, que as denúncias tenham consequências,
mas, infelizmente, não me parece, pelo que vou vendo...
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