O Ano da Misericórdia fechou as
portas das igrejas jubilares com algum estrondo, falta agora abrir as portas do
coração para os muitos desafios que o mundo e a vida dos tempos de hoje
oferecem à Igreja toda.
O epicentro deste estrondo
chama-se Papa Francisco, que provoca um abalo sísmico com alguma magnitude ao
decretar na cara apostólica Misericordia et Misera o fim dos condenados perpetuamente por causa da prática do aborto. Ele diz que gostaria de «reafirmar
o mais firmemente possível que o aborto é um pecado grave, uma vez que põe fim
a uma vida inocente», mas «não há pecado nenhum que a misericórdia de Deus não
possa alcançar e limpar quando encontra um coração arrependido, que procura ser
reconciliado com (Deus)».
O papa Já tinha concedido a
faculdade da absolvição do pecado de aborto temporariamente a todos os
sacerdotes para todo o Ano Santo da Misericórdia, que decorreu de 8 de dezembro
de 2015 até o último domingo. Porém, precisamente, com a celebração do
encerramento deste ano santo, veio a determinação seguinte: «Para que nenhum
obstáculo se interponha entre o pedido de reconciliação e o perdão de Deus,
concedo a todos os padres, a partir de agora, a faculdade de absolver o pecado
do aborto». A doutrina católica considera o aborto, um pecado tão grave que
todos aqueles que incorrem nessa praticam, ficam automaticamente excomungados,
não podendo comungar na celebração da missa nem receber ou participar nos sacramentos.
Já completei 20 anos de vida
sacerdotal e em todas as ocasiões em que me vi confrontado com a confissão
deste pecado, nunca deixe de expressar a absolvição, as devidas palavras de
libertação e conforto. Também é importante salientar que em nenhuma vez alguém
manifestou regozijo pelo que fez, ao contrário, encontrei sempre pessoas
destroçadas e vergadas ao peso de um fardo terrível que lhes comprime o coração
e a alma.
Neste sentido, a declaração papal
ganha novidade só por estar escrita e assumida pela autoridade máxima da
Igreja, porque estou em crer que a maioria dos sacerdotes em todo o mundo já há
muitos anos que absolvem as pessoas deste pecado, desde que arrependidas o confessavam. Por
isso, a profusão das notícias manifesta algum engano, porque apresentam esta
declaração como totalmente nova e como se a maioria não vivesse já há a prática
desta compaixão.
No entanto, sempre ouvimos dizer
de casos de pessoas que foram algumas vezes insultadas e escorraçadas como
criminosos condenados perpetuamente de alguns confessionários da Igreja
Católica. Felizmente, agora não haverá mais nenhum bordão, onde alguns se
seguravam para oprimir e massacrar. O Papa com uma simples frase autorizou uma
prática que encontra agora legitimidade pública e que deve ser cada vez mais
acentuada. Os frutos do ano da Misericórdia aí estão e todos nós devemos seguir
nos passos dos trilhos que o Papa Francisco vai desbravando.
1 comentário:
Caro Padre José Luis, já vou encontrando o DEUS em que acredito. Bondoso, todo amor e perdão. Pois o DEUS da condenação eterna era para mim muito esquisito. Para si um grande abraço e os meus parabéns pelo seu artigo. Ao Papa Francisco tb desejo imensa saúde e coragem.
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