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terça-feira, 8 de novembro de 2016

A fome de poder e de dinheiro

A frase do Papa Francisco suscitou-me esta reflexão. Antes de tudo sublinho já, tomara que esta loucura desenfreada pelo dinheiro e pelo poder fossem coisas só destas bandas eclesiásticas...
Vamos à frase: "Também na Igreja, há aqueles que em vez de servir, de pensar nos outros, de estabelecer as bases, se servem da Igreja: os carreiristas, os apegados ao dinheiro. E quantos sacerdotes, bispos vimos assim. É triste dizer isso, não? A radicalidade do Evangelho, do chamamento de Jesus Cristo: servir, estar ao serviço de, não parar, ir ainda mais longe, esquecendo-se de si mesmo. E o conforto do status: eu atingi um status e vivo confortavelmente sem honestidade, como os fariseus de que fala Jesus, que passeavam pelas praças, para serem vistos pelas pessoas” (Papa Francisco, homilia da missa na Casa Santa Marta, 06/11/2016).
É muito verdadeira a frase do Papa Francisco. Mas é uma face da moeda ou um bico de uma realidade com vários bicos. Está feita e bem feita a denúncia. Ao Papa, e não só, compete falar assim abertamente e com coragem. A dimensão profética exige, que olhemos para fora e para dentro, lendo o bem e o mal que nos rodeia. Nada é mais honesto que isto.
Porém, também será necessário lembrar que a corrida frenética de muito clero pelo poder, pelos títulos e pela importância que o topo da hierarquia católica confere, nunca deixarão de existir, sem que a própria Igreja Católica deixe de ser uma hierarquia piramidal para se tornar uma hierarquia circular. Assim, devia caber hoje ao Papa Francisco dar passos nesse sentido. Mas muito pouco de concreto nesse sentido se tem visto. Há o seu exemplo, o seu apelo, o seu discurso. Mas vontade de mudança com pessoas e medidas concretas que ajudassem nesse sentido pouco ou nada há. Esta constatação, faço-a com muita pena, porque o Papa Francisco, pode, fatalmente, revelar-se mais tarde ou mais cedo uma oportunidade perdida. 
Explico-me. É ao Papa (tomara que muitos dos nossos bispos lhe tomassem o exemplo) que compete denunciar como faz muito bem o Papa Francisco, mas também compete a ele tomar medidas para que tais apetites não façam sentido acontecer e sejam ridículos perante a fraternidade nessa tal Igreja Católica do ideal evangélico. Enquanto não for uma comunidade de irmãos e irmãs iguais entre si, a Igreja será sempre o último reduto de um império onde vai continuar acontecer a loucura pela subida hierárquica e haverá sempre muitos que se servirão da Igreja ao invés de a servirem. As estruturas fortemente hierárquicas e fechadas à fraternidade e igualdade entre fiéis permitem sempre é inevitavelmente essa luta frenética pelo poder, pelos títulos e pela importância. 
É tão difícil que a loucura pelo dinheiro não aconteça porque é também esta mesma Igreja Católica que faz tão pouco pelos seus sacerdotes quando ficam doentes e idosos. Provavelmente, não faltarão muito maus exemplos a este nível na Igreja Católica, a começar entre nós. Essa insegurança e falta de garantias futuras, fazem com que os sacerdotes se vejam tentados pela obsessão pelos bens materiais e quando essa obsessão é cega provoca escândalo e prejudica gravemente a imagem da Igreja.
Neste sentido, são lógicas e consistentes as denúncias do Papa Francisco neste domínio dos apetites pelo materialismo do clero e a fome pelo poder ou pela importância que os cargos e títulos eclesiásticos conferem. Mas, como consequência disso, esperamos que o Papa implemente medidas, para que toda a Igreja se torne mais fraterna e inclusiva em todos os seus aspectos. Não cabe aqui uma Igreja que recusa a transparência e a abertura ao diálogo com os fiéis. Oxalá, que as denúncias tenham consequências, mas, infelizmente, não me parece, pelo que vou vendo...

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