O assunto é de uma importância
relevante e achei curiosa a forma tão corajosa como o Papa Francisco o abordou. Nunca tinha visto a problemática das vocações ao sacerdócio ser assim tratado com tanta clareza nas
palavras. Sim, porque este assunto quando é puxado nas reuniões do clero é só
para falar-se de coisas boas, nunca de aspectos concretos, porque sempre se
considera que de vocações estamos bem. Porém, às escondidas, uns com os outros,
é só lamentos atrás de lamentos. O Papa Francisco põe os pontos nos is e considera que o assunto deve ser debatido com clareza e com espírito aberto à mudança que é necessário fazer-se em toda a linha.
Vamos às ideias do Papa
Francisco: «Uma vez, recém-nomeado mestre de noviços, ano 72, fui levar pela
primeira vez à psiquiatra os resultados do teste de personalidade que se fazia
como um dos requisitos do discernimento. Ela era uma boa mulher e uma boa
cristã, mas em alguns casos era inflexível: ‘Esse não pode’. ‘Mas, doutora, é
um jovem tão bom!’. ‘Mas saiba, padre – explicava a psiquiatra ao futuro Papa –
existem jovens que sabem inconscientemente que são psicologicamente enfermos e
procuram para as suas vidas estruturas fortes para defende-los e assim poderem
seguir em frente. E estão bem até o momento em que se sentem bem estáveis, depois,
ali começam os problemas…». Melhor é impossível, para explicar tantas
debilidades vocacionais que andam pelos nossos lados.
A falta de vocações sacerdotais
criou um problema grave de escassez e os bispos ficam em pânico no momento do
ano em que têm que fazer mudanças de párocos e serviços pastorais nas suas
dioceses. Deve ser um drama indescritível. Os seminários estão vazios, mas
multiplicam-se os serviços pastorais e as paróquias são sempre as mesmas e o
povo que as compõem quase que exigem um padre a tempo inteiro só para si. Ainda
bem que algumas coisas neste sentido já estão a mudar. Pena é que a adesão as
serviços religiosos sem um padre a presidir ainda não tenham o mesmo respeito
perante o povo em geral.
Dado o mote pelo Papa Francisco para
esta reflexão, o que mais interessa salientar é o que se passa com a selecção dos
futuros padres. A escassez fez baixar a fasquia e os critérios quase não
existem. Daí que estejam a ser ordenados jovens profundamente retrógrados e
alguns, não escondendo a sua exuberância, fazendo muito por isso, passam uma
imagem de efeminados e com problemas do for sexual mal resolvidos. Tantas vezes
tenho afirmado que um jovem que repudia as mulheres, cospe na possibilidade de
se casar, não serve para o sacerdócio…
Pior ainda têm sido as sombras
muito negativas que se abateram sobre alguns seminários, com padres a serem
investigados pela Política Judiciária ao abrigo de suspeitas de pedofilia, sem
que os principais responsáveis das Dioceses façam o que devem fazer nestes
casos para que a imagem do Seminário fosse limpa. Se tantas vezes se considera o
seminário berço tão importante para o futuro da Igreja, porque se mantém tão
passiva a Igreja perante as situações graves que nos últimos tempos ensombraram
a normalidade dos seminários? - Por aqui se percebe que quando se fala a um
jovem sobre a possibilidade de entrar para o seminário somos confrontados com o
pior que paira no ar e a recusa para
andar nesse caminho não se faz esperar.
Na intervenção do Papa no Congresso
organizado pela Congregação para o Clero, em Roma, na parte final do
discurso acrescenta, aludindo ainda à psiquiatra nos idos anos 70: «“Você não
pensou no porquê de existirem tantos policiais torturadores?”, Perguntava
a mulher, “entram jovens, parecem sadios, mas quando se sentem seguros a doença
começa a sair”. Polícia, exército, clero, são, de fato, “as instituições fortes
que estes doentes inconscientes procuram”, observa o Papa Francisco, “e depois,
muitas doenças que todos nós conhecemos”. “É interessante – acrescenta - quando
um jovem é muito rígido, muito fundamentalista, eu não confio. Detrás daquilo
existe algo que ele mesmo não sabe». Portanto, uma clara advertência: «Cuidado
com as admissões para os seminários, olhos abertos». E agora, o que irão dizer
os que andam com palavrinhas tão doces nas campanhas vocacionais e no fim aceitam
tudo o que mexe?
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