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sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Sobre a cremação dos defuntos

O Vaticano apresentou um documento sobre o sepultamento de defuntos e a conservação de cinzas em caso de cremação, intitulado de Ad resurgendum cum Christo, elaborado pela Congregação para a Doutrina da Fé, presidida pelo Cardeal Gerhard Müller. Apresentamos alguns pontos que mais ou menos resumem o documento. Depois de ter presidido a várias celebrações de cremação, nunca me apercebi que tenha havido alguma negligência ou irresponsabilidade das famílias quanto às cinzas dos seus defuntos. Em todo o caso, chamar a atenção é sempre importante e aqui deixo estes elementos para que cada um decida responsavelmente sobre o destino a dar aos seus restos mortais e quando tenha ao seu cuidado a tarefa de dar um destino às cinzas de alguém, o faço com o sentido de responsabilidade que a tarefa exige.   
1- A Igreja prioriza e incentiva os seus fiéis a enterrarem os seus entes queridos em cemitérios.
2- Ela permite no entanto a cremação, principalmente se isto for necessário por questão de higiene, económica e social nalguma região.
3- No entanto a cremação não pode estar ligada a razões contrárias à Fé, mas resulte de Espiritismo, Panteísmo, Gnosticismo…
4- O Corpo é templo do Espírito Santo e é portanto Sagrado.
5- Não se deve conservar cinzas em casa, porém o Bispo Diocesano pode dar esta concessão se não encontrar perigo de abuso.
6- Não se deve sob hipótese alguma dividir as cinzas, ou armazená-las em jóias.
7- Deve-se preferir no caso da cremação, guardar nalgum lugar sagrado e não se deve dispersar as cinzas na natureza para se evitar equívocos.
8- Se alguém manifestou o desejo de cremação e o descarte da natureza por motivos não católicos, deve-se negar-lhe exéquias cristãs.
Nota final: sejamos felizes e aproveitemos a vida com saúde, paz e felicidade sempre. Quanto a esse amanhã da morte, não nos preocupemos, lá chegará e quem ficar que dê o destino que entender ao que «sobrou» de materialidade que antes pertencia a um corpo vivo, mas que agora está morto. Vivas à vida com muita saúde.
Publicado em ChurchPop

1 comentário:

Isabel Cardoso disse...

Deixo aqui o comentário que deixei no blogue "Nos caminhos de Francisco" (https://noscaminhosdefrancisco.wordpress.com/2016/11/08/cinzas-dos-mortos/) que também sigo. Não vale a pena publicá-lo, só queria partilhar consigo este desabafo e também dar-lhe conta de que registei, com gratidão, o parágrafo final que colocou na sua publicação porque consolou e trouxe sentido a este conjunto de directivas doutrinárias que me provocaram espanto e, confesso, alguma tristeza. Aqui vai o tal comentário que fiz: "Frei Betto deu voz à minha angústia. Entristeceu-me que Roma e o Papa, por quem tenho tanta admiração e respeito, revelem um tão grande distanciamento da realidade comezinha do dia-a-dia, que mesmo comezinha é o centro das nossas acções e sentir. Perdi um filho e vivo num lugar onde as poucas sepulturas perpétuas (como se alguma coisa nesta vida terrena, o fosse) são raras e muito caras. Dei-lhe a morada possível debaixo da terra sabendo que ao fim de cinco anos enfrentaria o problema do destino das suas ossadas. Confesso, que esse facto me causava muita ansiedade porque ali estavam os restos físicos de alguém que muito amei e muito amo. Quando o tempo passou, tive a opção de proceder à cremação e, neste país sujeito ao empobrecimento dos que trabalham e à exploração de tudo o que possa dar lucro, voltei a pagar à funerária e ao cemitério municipal quantias exorbitantes para, com dignidade, ver tratados os restos mortais do meu menino. Sem a ajuda financeira dos meus pais, com quem comunguei sempre da dor e da angústia , ter-me-ia sido impossível conduzir o processo desta forma e não me restaria senão a alternativa de ver a sepultura usada por estranhos e os seus restos mortais abandonados, anonimamente, debaixo de terra. As cinzas que me entregaram, de um corpo que esperou semanas para ser cremado e que naturalmente me fizeram duvidar do respeito que mereceram, repousam no principal cemitério municipal porque só neste há espaço para as guardar. Creio que é acto de misericórdia estar atento e conhecer a realidade. Por este "drama comezinho e banal" passam as nossas dores, as nossas experiências de Fé e Esperança, não nos tornem, lá do alto do poder, marionetas de convicções alheadas da História. Guardei até hoje este desabafo porque tudo o que diz respeito à morte, ao luto, à dor e, sobretudo, à forma como tratamos os restos físicos dos nossos semelhantes está carregado de tabus,preconceitos, de uma assepsia histérica e tola e sentimo-nos muito sós quando enfrentamos estas questões. Obrigada Frei Betto, já não me sinto tão só!"