Conto de Natal...
Um homem rico, muito devoto, cumpridor dos seus deveres humanos e
religiosos, desejava tanto encontrar-se com Deus pessoalmente que um dia disse
para consigo que era capaz de dar a vida para que esse encontro se realizasse.
Viveu muitos anos com essa esperança.
Desejo manifestado desejo realizado. Um dia o homem cai à cama com uma
valente pneumonia que lhe cerceou a vida material. Morreu com aquele pensamento
que lhe alimentou a oração e os passos durante muito tempo da sua vida neste
mundo.
Ao chegar ao céu andou por todos os lugares paradisíacos desse lugar que
tanto lhe tinham falado na vida inteira enquanto andou pelo mundo, cada lugar
do céu era mais bonito do que o outro, olhava para todos os cantinhos, procurava
a face de Deus. Os anjos que encontrava, a cumprirem os seus deveres em nome de
Deus, respondiam seguros à pergunta onde está Deus, que estaria onde gosta
de estar todos os dias. Muito bem, a informação foi confirmada por todos os
anjos, em nenhum deles encontrou contradição.
Perante tão seguras indicações, imaginou os aposentos de Deus, ricamente
ornamentados, com belos sofás, candeeiros de talha dourada em folha de ouro
fino, uma estante com os livros delicadamente impressos com a vida dos grandes
santos desde os apóstolos até aos últimos Papas, rodeado de criados bem
apresentados, bem vestidos pelos modistas famosos, algumas bebidas num canto da
sala principal num luxuoso bar com a melhor garrafeira do céu para onde tinham
sido levadas todas as espécies de bebidas caras e as mais apreciadas pelos
humanos... Imaginava que devia haver nos aposentos de Deus um quarto de dormir
fora de série e que só podia ter lá as melhores comodidades, pois, a
importância de Deus assim o exigi.
Alguns dias passaram e já tinha visto mais ou menos tudo e conversado com
imensa gente no céu. Mas faltava-lhe cumprir o seu desejo, encontrar Deus face
a face. Finalmente chegou ao corredor que o leva aos aposentos de Deus. Ao
fundo lá estavam os sinais que pareciam indicar que aqui seriam os aposentos de
Deus.
O seu coração pulsava mais forte que nunca, mas não sentia medo de Deus,
sempre desejou este encontro, nada o podia deter para que se realizasse o que o
moveu durante o tempo em que viveu a sua religião com uma piedade
irrepreensível. Finalmente ia estar com Deus face a face.
Chegando ao lugar que seguramente lhe parecia serem os aposentos de Deus,
entrou pé ante pé para dentro de um quarto enorme, que estava escuro e vazio.
Deus não estava neste lugar.
Saiu de rosto caído e triste. Ao primeiro anjo que encontrou perguntou-lhe
por Deus, que prontamente e em júbilo lhe respondeu, os aposentos de Deus são
estes aqui, mas Ele nunca está em casa, anda pela terra no coração de tantas
pessoas, às vezes alegre, outras triste, umas com saúde, outras doente, muito
doente, nalguns dias é criança, jovem, adulto e idoso, tantas vezes está
alimentado e feliz, outras vezes fica esfomeado e infeliz, também numa porção
do seu tempo tem abrigo, mas outras tantas ocasiões deita-se no canto da rua à
chuva e ao frio, quando há guerra, está em todos os lados, derrama sangue e
morre, por isso, Ele é o olhar que brilha, o olhar melancólico de tristeza, é o
sorriso e as lágrimas, as mãos que cuidam e os pés imparáveis para encontrar a
vida em todos o recantos da existência… Ele é um tudo em todos e para todos.
Assim sendo, o anjo concluiu o diálogo com o seguinte exemplo: acabei de
ler no jornal do céu, que neste preciso momento, Ele tinha nascido numa gruta e
que estava cheio de frio deitado nas palhas, envolto em panos e aquecido pelo
bafo dos animais.
Depois da brilhante reflexão do anjo, o nosso homem, percebeu que foram
imensas as vezes em que se tinha encontrado com Deus face a face ao longo de
toda a sua vida. Sorriu feliz e quis ser também um anjo para ajudar Deus a ser
tudo em todos.
JLR
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