1. A paz não pode ser uma farsa. Quando a paz é uma farsa não é paz e se
for é como a paz dos túmulos. Bela por fora podre por dentro.
2. A avalanche natalícia de jantares solidários e a prática geral da
cabazada para ajudar as famílias no Natal, são uma manifestação dessa tal farsa
da paz. Os farsantes dessa paz, desejam-na e a alimentam-na para que tudo se
mantenha sossegado, para que ninguém reclame que tem direitos, que precisa de
trabalho e dignidade. Uma vergonha cada reportagem na televisão sobre estes
eventos. Porque, são momentos humilhantes para quem é vítima de uma
instrumentalização indecente. Esta paz fica bonita na televisão. Está o
presidente. O secretário. O jogador. O líder. O chefe… Esta paz é branca. Esta
paz é pálida. Está moribunda.
3. Estas ações servem para criar uma cortina onde se esconde a miséria de
um povo espoliado e votado à desgraça da desigualdade que estes zelosos
farsantes da paz levaram a cabo pelas medidas injustas, pela incompetência
diariamente confirmada, pela insensibilidade do que é precisar de um trabalho
digno para vencer as dificuldades e ser autor da sua própria história. É um
crime a paz podre dos túmulos quando a sociedade é desigual e quanto está
repleta de injustiças.
4. O discurso de que haverá um Natal mais feliz para alguém porque se dá um
cabaz perante as câmaras da televisão, é uma infâmia, porque se pretende
esconder as graves necessidades que passam diariamente tais pessoas. Assim, com
estas práticas não se dá conta, não se pensa nem se faz pensar como resolver as
graves violências que são levadas a cabo contra as pessoas, incluindo várias
vezes o próprio Estado. Deveríamos suspender o Natal durante alguns anos até
que terminasse esta lógica da paz dos túmulos.
5. O lugar do povo que recebe bem, a exaltação das paisagens e do clima
temperado ou de microclimas, é por vezes, uma só face de uma moeda, que ajuda a distorcer a realidade e que ajuda a esconder os perigos que nos assistem, o
desmazelo, a incivilidade e a desigualdade social. A paz que se anuncia é
apenas um rebuçado. Por isso, a paz devia ser proibida, quando só aparece no
Natal para salvar a pele e a face de alguém. Esta paz que se organiza
interesseiramente não é seguramente a do Natal. Também não é a que desejo nem
muito menos aquela de que almeja o mundo e a sociedade onde vivemos, porque se
for, nunca passaremos da paz dos túmulos.
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