1. Está a fazer grande furor novamente na comunicação social a seguinte
afirmação do Papa Francisco: «Tenho a sensação de que o meu pontificado será
breve, quatro, cinco anos. É como uma sensação, algo vaga», refere, numa das
entrevistas citadas no documentário ‘Papa Francesco: come Dio comanda’ (Papa
Francisco: como Deus lidera), que foi transmitido ontem na ‘Sky Atlantic’.
Nada de novo
debaixo do sol. Várias vezes o Papa desde o início do seu pontificado afirmou
isso. Não por nenhuma razão especial, mas pelas evidências da natureza.
Primeiro, no próximo dia 17 de dezembro completa 80 anos. Segundo, porque sempre acusou uma
certa debilidade de saúde, embora nos surpreenda o seu imparável movimento e a sua
agenda todos os dias está completa.
2. No entanto,
não podemos descartar a certeza que a missão do papado deve ser uma tarefa
muito envolvente e que deve provocar um desgaste extraordinário, ainda mais
quando se trata sempre de pessoas de idade avançadas. Por isso, não me admira
nada que o Papa frequentemente faça afirmações deste teor se para tal lhe for
solicitado. Ainda mais se considerarmos ser um homem que não faz rodeios para
dizer as palavras nem muito menos olha de esguelha para ver se pode falar assim
ou assado, como fazem tantos outros eclesiásticos que se limitam a dizer
generalidades por causa do medo da comunicação social e dos poderes políticos
onde exercem o seu múnus apostólico.
3. Um outro dado
que não devemos descurar para a análise desta frase, relaciona-se com a sua
ação reformista, a preocupação ecuménica, as críticas certeiras quase quotidianamente
aos cardeais, aos bispos e aos padres. Obviamente, que não se deve meter tudo
no mesmo saco. Há de uns e outros. Todos sabemos de uns desleixados, regídos
apegados à letra da lei, desumanos, distantes da realidade, insensíveis aos
cansaços e problemas das pessoas concretas, comodistas e pecadores como toda a
gente. Mas, há outros dedicados e que carregam a cruz da pastoral todos os dias
de forma irrepreensível e que merecem uma palavra de apreço por essa causa do
amor ao trabalho de Cristo. Porém, certo é que o Papa não tem medido as
palavras para denunciar a rigidez, a vaidade, os luxos e a sede de poder que
tantas vezes comanda o clero em todo o mundo. Antes que me acusem do que quer
que seja, deixo já aqui a confissão do meu pecado, devo ter um pouco dessas
coisas todas e às vezes devo estar num campo ou noutro. Não sou perfeito, mas
esforço-me para vencer muitas tentações e sempre que possível tomar o partido
do bem das pessoas. Sempre com muitas falhas.
4. Seguro é que
tudo isto deve provocar anti corpos e reações terríveis que devem cair como
chuva em cima da mesa de trabalho do Papa Francisco. Daí que não me admira que
acuse cansaço e até desencanto ou que tenha a sensação que está nesta missão
para poucos anos. Nós que não estamos envolvidos diretamente no ver e sentir do
Papa, sentimos esse desalento quando vemos que a rigidez continua e que uma
porção do clero pouco ou nada liga àquilo que diz o Papa. Que me perdoem quem
não merece que se diga o seguinte, mas parece que não leem, não ouvem notícias
e se sabem do que proclama o Papa Francisco fazem ouvidos de mercador ou
encolhem os ombros, como que dizendo «ele está longe não sabe que eu existo». É
caso para dizer-se, podem pensar assim em relação ao Papa, mas com Deus não.
5. Apesar deste
ambiente esquisito que envolve a Igreja Católica, deve ser salientado que
devemos acreditar que muitas das reformas começadas pelo Papa Francisco são
imparáveis e não haverá nenhuma força integrista que faça parar este tsunami
que varre a Igreja, que de certeza a conduzirá pelos caminhos de Deus, do amor
pela vida e pelo mundo. Esta riqueza chamada Francisco, ninguém deste mundo vai
conseguir sonegar nem muito menos os que sentem saudades da imagem poderosa e
imperialista da Igreja Católica.
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