A Igreja Católica, à qual pertenço
com muito orgulho, porque é a melhor herança que recebi da minha família, tem a doutrina
ideal sobre todas as coisas e sobre a dignidade das pessoas então nem se fala.
Uma mensagem extraordinária.
Mas, quanto a alguma acção prática
dessa mesma mensagem já há muito a ser dito. Verificamos que há quilómetros de
distância entre a teoria e a prática. Os discursos sobre as crianças são
tão bons, sobre os casais (o matrimónio), sobre os jovens, sobre a mulher e a feminilidade,
sobre os idosos e sobre tudo o que é e pertence à humanidade, porém, não é feito imenso contra aquilo que é proclamado. A título de exemplo, duas
situações. A mais bela doutrina sobre o trabalho e os trabalhadores está na
doutrina católica, mas há imensas situações em várias instituições católicas
onde os trabalhadores são desconsiderados ou quiçá sofrem alguma exploração. A
doutrina sobre os idosos que é apresentada pela Igreja Católica é
extraordinária, mas alguns membros da hierarquia passam a sua velhice no
abandono e na maior solidão. Há exemplos concretos, mas por respeito e amizade
às pessoas é melhor não os referir aqui.
A Igreja Católica ao lado do Estado
serve-se nas devidas proporções dos idosos. Uma e outro sabem muito bem como
«tratar» dos idosos para levar a cabo com eles os seus intentos. A hipocrisia
quanto a este aspecto é muito grande em todos os quadrantes. Ambos fazem favores mutuamente neste aspecto e em tantos outros.
D. Teodoro de Faria, bispo emérito
do Funchal, acusou por estes dias o Estado de só se interessar com os idosos na
hora dos votos. Eis, então, que na terra de povo superior, com um consequente
governo superior, a Secretaria Regional dos Assuntos Sociais, veio a público com
um ridículo comunicado corroborando as declarações do bispo emérito, como se
esta secretaria não fosse Estado. Como se não fosse da sua responsabilidade os
vários dramas porque passam os idosos entre nós. Há imensos totalmente
abandonados nas suas casas, mergulhados na porcaria, na solidão e no
sofrimento. A novela sobre o Atalaia ainda não teve o seu epílogo. Aliás,
alguns já o tiveram, porque já sabemos dos que já estão no cemitério. Este
aproveitamento político é indecente, hipócrita e procura esconder a miséria que
nos assiste actualmente no que diz respeito aos idosos. Os culpados
por esta miséria não estão fora de nós, mas aqui dentro e nenhum comunicado nos
tapa a vista.
Os idosos tornaram-se assunto da
moda. Uma riqueza para tantos. Umas pedrinhas que se usa e abusa ao capricho de
belos figurões, que se aproveitam da infelicidade dos frágeis e deles
pronunciam belos discursos e têm belas atitudes de altruísmo que não passam de
capas bem montadas que escondem os seus interesses mercantilistas ou quisera
eu, que fosse uns acessos de remorso de consciência por causa do que deviam
fazer quando podiam fazer e não o fizeram. Mas, dado o desplante com que se diz
as coisas, infelizmente, não é. Por isso, deixem estar o que está quieto.
Vieram tarde. Porque com defensores destes os idosos passam bem.
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