Uma
paisagem de estragos incompreensível, porque semeou a morte, o sofrimento, a
solidão, a impotência e tudo regado com as lágrimas da dor. Tudo condimentado
com o falhanço do iluminismo que parecia tudo resolver, o fim dos limites
limpava a inteligência de todo o incenso, mas parece que o fumo também se pode
tornar mortal e mata todo o sinal de vida que seja trancado entre portas feitas
para salvar e se teimosamente trancadas matam como qualquer outra arma feita
para semear a morte.
Copérnico e Galileu disseram que a harmonia da natureza era reflexo
do Criador. Nesta senda Newton acertou os seus cálculos os ponteiros dos
relógios das catedrais. A chuva caiu sobre os telhados do mundo e inundou os
claustros provocando humanidade no pensamento e cerceou a liberdade, autonomia
humana e a condução do Espírito.
Mas, a razão emergiu pujante e nobre colocando tudo o que é dito
de Deus e da religião pura superstição, porque não era experimentável no crivo das
regras elementares da ciência. Porém, curioso é sabermos hoje que o mistério sempre
lá esteve e hoje mais presente do que nunca, para nos tomar de luto perante as
tragédias que impiedosamente matam e fazem verter lágrimas de sofrimento, de
raiva e de revolta.
Para que serviam as perguntas quanto dizíamos possuir todas as
respostas?
Voltaire e outros quiseram só e unicamente a inteligência como
explicação para autonomia e libertação humana. Porém, Baudelaire, Rimbaud entre
tantos outros, quiseram beber em Deus a sua sede de absoluto e descansar das
suas inquietações. Nessa procura foram dizendo o que queriam, o que desejavam
como sentido último para a existência. Por isso, lembro Dostoiévski que olhando
para Jesus despiu os eclesiásticos e escancarou-lhes a alma revelando quanto os demónio nela habitavam. Nietzsche disse, o homem é livre, nada que o faça
sobrenatural, transcendente, ele é o super-homem, deu no que deu e todos nós
sabemos. Sartre solenemente proclamou o inferno são os outros e a morte é o último
limite humano que destitui a existência de qualquer sentido.
E neste subir e descer, temos sempre diante de nós o maior dos
enigmas, Jesus. Ele o eleito da inquietação de tantas mentes, por exemplo:
Claudel, Simone Weil, François Mauriac, Chesterton, Péguy, Graham Greene,
Alberto Schweitzer; entre nós destaque-se Fernando Pessoa, Sophia de Mello
Breyner, José Saramago, José Carlos Ary dos Santos, Natália Correia, Júlio
Pomar entre tantos outros autores/artistas que por cá e por todo o mundo fazem
do coração inquieto o lugar do mistério e nele produzem palavras como sombras
onde se refresca o descanso da paz para que a serenidade da vida se retempere
na esperança e nalgum sentido.
Por nós, mesmo assim, no descampado do incenso mortífero e da
ravina assassina e em tudo o que seja violência que mata, descobrimos o Deus de
Jesus que não é um velho Narciso, que à socapa de adoradores submissos nem muito
menos um tirano assassino que anda constantemente irado com os pecadores. É o Abba,
o pai/mãe cheio de amor (e a meu ver «mais mãe do que pai» como diria o Papa
João Paulo I), cuja oferta maior que tem para nos dar é a vida. Contraditório? –
Dirão perante a desgraça e a tragédia, mas «se o grão de trigo não morrer fica
só»...
O que nos deu este domingo 27 de Janeiro de 2013 não foi uma
grande guerra que inquietou tanta gente e tantas figuras proeminentes como
Tolstoi, Camus. As notícias do incendio na discoteca em Santa Maria (o nome mais curioso que nos poderia ser dado), Rio Grande do Sul no Brasil, o autocarro que se estatela pela encosta
na Sertã com excursionistas que iam visitar um presépio e outros tantos mortos
resultantes da violência no Egipto… Tudo, é muito horrível e trágico para um
dia só.
Hoje, tropeça-se na rua com tantas almas feridas na sua dignidade.
Há uma multidão sem pão e o sistema salva a auréola cristã e exclui o pão partilhado,
não se importando nada que as mesas estejam vazias. Por isso, Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein - 1891-1942),
carmelita, mártir, co-padroeira da Europa, no Poema «Am Steuer» / «A Tempestade»,
1940, fez-nos germinar na alma flores que se chamam esperança, fé… Num amanhã
que será alegre e feliz no oásis de um novo tempo onde secaram para sempre as lágrimas
deste tempo de tragédia, de dor e de sofrimento. Escutemos então:
«Sou Eu. Não temais»
- Senhor, como são altas as
ondas,
E tão escura a noite !
Não poderias dar-lhe alguma claridade ?
É que velo solitária na noite !
- Segura o leme com mãos firmes,
Tem confiança, mantém a calma.
A tua barca é-Me preciosa,
A bom porto a levarei.
Mantém, sem desistires,
Os olhos na bússola.
É ela que ajuda a chegar ao destino
No meio de noites e tempestades.
A agulha da bússola
oscila mas mostra segura a direção.
Ela te indicará o cabo
Aonde quero que arribes.
Tem confiança, mantém a calma :
Por noites e tempestades
A vontade de Deus, fiel, te guiará,
Se vigilante for teu coração.
E tão escura a noite !
Não poderias dar-lhe alguma claridade ?
É que velo solitária na noite !
- Segura o leme com mãos firmes,
Tem confiança, mantém a calma.
A tua barca é-Me preciosa,
A bom porto a levarei.
Mantém, sem desistires,
Os olhos na bússola.
É ela que ajuda a chegar ao destino
No meio de noites e tempestades.
A agulha da bússola
oscila mas mostra segura a direção.
Ela te indicará o cabo
Aonde quero que arribes.
Tem confiança, mantém a calma :
Por noites e tempestades
A vontade de Deus, fiel, te guiará,
Se vigilante for teu coração.
Sem comentários:
Enviar um comentário