A fé não é um ornamento do corpo ou de sala
A fé não é uma bijuteria que ostentamos em qualquer sítio do nosso corpo
como uma coisa qualquer que embeleza ou nos revela um sentimento qualquer.
Também, não é um ornamento que colocamos sobre qualquer móvel da sala da nossa
casa. Bem sei que em muitos recantos das casas, nos carros e até sobre o corpo
encontramos imagens de Jesus, de Nossa Senhora, dos Santos, pagelas, cruzes,
terços e outros objectos religiosos que invocam ou convocam para a manifestação
de que por perto há pessoas crentes ou devotas. Nada disto é sinal que estamos
perante pessoas que sejam em geral esclarecidas na sua fé ou que esses sinais
são sinónimo de uma fé verdadeira em Deus e no Seu projecto de salvação que desinstale
cada crente a viver de forma autêntica e militante a sua vida no caminho da fé.
Nada de generalizações nem muito menos juízos de valor. Antes uma análise e uma
tentativa para situar a fé no caminho que liberta e não apenas valorizar
aspectos que antes de salvarem oprimem e massacram tantas vezes a consciência
das pessoas.
Muitas destas manifestações são sinal de muita superstição. Obviamente,
que não devemos generalizar nem para um lado nem para o outro. Não generalizamos
que todos os que usam os ornamentos religiosos são todos uns supersticiosos nem
também devemos considerar que são os maiores e os melhores crentes. Haverá de
tudo neste ambiente da ornamentação religiosa. Até haverá imensos que
consideram tais objectos uma bela oportunidade de negócio e que são peças de
arte como outras coisas que existem por aí no domínio da arte que só servem
para serem apreciadas artisticamente e para embelezar as salas das casas e o património
dos nossos requintados museus.
A fé precisa de manifestação pública, com certeza… Precisa de alimento e
cada pessoa deve descobrir a melhor forma como alimenta essa força que anima a
sua alma. Porém, nunca deve centrar esse alimento no ornamento que apresenta.
Tais ornamentos não são um fim em si mesmos, mas mediação, meios sentimentais
que ajudam à descoberta do essencial, a relação misteriosa, pessoal com o
transcendente. Quando os ornamentos se convertem em fins em si mesmos, a fé
coisifica-se e facilmente cai no fundamentalismo, na superstição e quando o que
se deseja não aconteceu, não tarda nada o desencanto e a desilusão.
A fé é uma descoberta da nossa dimensão espiritual, divina. Nós, pelo
facto de sermos cristãos, descobrimos Jesus Cristo, para nos dar sentido à vida
e nos animar numa força interior para nos fazer mais firmes na esperança,
animados na luta pela justiça e sonhadores no mundo novo cujo alicerce
principal é a fraternidade. Esta fé encontra os mais variados alimentos e se
quisermos os mais variados ornamentos, mas antes de tudo implica uma interioridade
que se expressa na densidade da comunidade fraterna e no encontro com os outros
como semelhantes e irmãos. Esta fé não precisa muito de ornamentos exteriores
manifestados nos mais variados objectos nem muito menos de manifestações
exacerbadas de folclore religioso. A fé não é um ornamento. Mas uma realidade interior
que nos eleva para a densidade do mistério que se enriquece, no nosso caso,
numa relação pessoal com Jesus Cristo ressuscitado e no Seu Evangelho.
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