A fé não é para condenar mas para salvar
sempre
Não é legítimo que
sejamos muito exigentes com os outros e que não sejamos capazes de viver isso
que se exige. Ninguém tem autoridade para pedir aos seus semelhantes aquilo que
não é capaz de fazer. De que nos vai valer manifestamos muitos escrúpulos e
intolerância diante das atitudes dos outros se depois realizamos os mesmos atos
despreocupadamente e sem pudor absolutamente nenhum?
Há uma história que nos
dá uma lição interessante. O lobo pôs-se a repreender o rato dizendo-lhe que
era um mau animal. E isto porque não fazia outra coisa senão roer sacos,
caixas, pão, queijo e tudo o que encontrava.
O raro, depois de
ouvir, respondeu: - Por que me falas assim, se tu és muito pior? Se eu como
queijo, tu devoras um cordeiro; se eu me ponho a roer um saco, tu bebes o
sangue de muitas ovelhas. Lembra-te de tantos pobres e inocentes animais que tens
matado e não queiras dar lições de moralidade aos outros.
Conta-se que o lobo
inclinou a cabeça e se retirou envergonhado dizendo para consigo: «Se me
tivesse calado, não teria ouvido o que tive de escutar»!
No Evangelho, Jesus radicaliza o seu discurso para nos mostrar claramente
que a nossa salvação só acontece mediante o amor com que aferimos a relação com
os outros. A medida com que seremos julgados não será apenas numa vertente
pessoal, isto é, não nos perguntará Deus qual a quantidade de missas que
rezamos, os terços que percorremos e as promessas devotas que realizamos. A
medida será de outra ordem. A pergunta que melhor define o nosso cristianismo
será esta: «que fizeste ao teu irmão?...» Sim, porque a religião que Jesus nos
oferece é a da relação e do encontro com todos como irmãos.
O cristianismo que nós professamos não é uma religião de simples seguidores
de um plano ou projeto político ou social. É antes uma forma de vida que nos
toca por dentro, porque nos convoca para o seguimento de uma pessoa concreta
que nos fala e nos desafia para atitudes de amor, isto é, os outros deixam de
ser apenas semelhantes, mas irmãos que devemos acolher e amar desmedidamente.
A linguagem de Jesus no Seu Evangelho serve para nos despertar para a
dimensão essencial de Reino novo, que assenta numa irmandade, porque todos são
filhos do mesmo Pai e abraçados pela mesma força espiritual que imana do
coração de Deus, que se define por amor desmedido pelos corações abertos a esta
possibilidade redentora.
Quer Jesus ensinar-nos, que diante de Deus mais vale não condenar e não
julgar ninguém, porque no mundo não existe pessoa nenhuma que seja perfeita ou
que não tenha defeitos. Devemos sim estar atentos às atitudes dos nossos irmãos
e sempre que seja necessário procurar fazer o bem mesmo que a troca seja
desagradável.
Não vale estar à espreita a ver quando acontecem falhas ou pecados para
censurar e murmurar uns com os outros sobre a vida deste ou daquele. Pede-nos
Jesus que sejamos misericordiosos e que não nos deixemos levar pelos instintos
primários das emoções mais fortes, condenando e desprezando logo à partida tudo
o que venha daqueles que estão à nossa volta, como se cada um de nós fosse o
mais perfeito do mundo.
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