O
novo Patriarca de Lisboa D. Manuel Clemente, explicou muito bem na entrevista
que concedeu ao Jornal I, que a Diocese de Lisboa e o Patriarca representam «um
peso diferente, porque se está na capital e há muitas coisas, do Estado ou da
própria sociedade, que acontecem aqui. Por isso, serei talvez o interlocutor
mais à mão. Mas eu não posso falar pela Igreja. Nós, bispos, temos tentado
explicar isto: a Igreja não tem uma organização nacional, mas sim
internacional, à volta do bispo de Roma. Cada diocese tem a sua autonomia. Há
uma Conferência Episcopal, que reúne todos os bispos, mas que também não é um
órgão de cúpula. Não se sobrepõe à autonomia das dioceses. É só um órgão de
cooperação entre as dioceses» (Jornal I, 20 de Julho de 2013).
Só
esperamos que a prática não seja precisamente ao invés desta mensagem. A doutrina
está feita, a prática, obviamente, tem muito que se lhe diga e não só por culpa
de Lisboa que se faz «chefe» do «resto de Israel», mas também porque esse «resto»
se presta à subserviência e alimenta a ideia dos superiores e dos inferiores/subalternos.
Gostei
muito da entrevista, menos da frase que responde à última pergunta, feita no
contexto da não apresentação de contas do Santuário de Fátima há vários anos: «Então
a transparência não é importante? - É importante, mas tem de se jogar com a
conveniência». Depois de falar tanto de abertura, de mudança, de simpatia e
colaboração com a comunicação social, de participação dos cidadãos na vida
pública e dos cristãos na vida da Igreja, denunciando muito bem que o maior dos
nossos problemas é termos uma opinião pública pouco interventiva e
participativa, esta resposta corresponde à ideia que no melhor pano cai a
pior nódoa. De facto, a questão da transparência de contas na Igreja é um grande busílis,
que quando confrontados os nossos bispos com esta questão, venha de onde vier,
sempre se enterram com a resposta que dão.
Assim,
esperamos sem grandes entusiasmos para ver como se vai fazer em Lisboa esse
«jogo» da transparência com a conveniência. As coisas não começam bem...
Aguardemos pelos próximos capítulos.
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