Lumen Fidei - Encíclica
Já
tenho metade da Encíclica do Papa Francisco lida, por isso, penso que já
poderei expressar algumas ideias ou alguns pontos que estão a assinalar a minha
leitura. A encíclica Lumen Fidei, completa a trilogia iniciada com o Papa Bento
XVI, A Caridade (Deus Caritas est), primeira encíclica, que trata
fundamentalmente do amor divino para com o ser humano. A encíclica sobre a Esperança
(Spe salvi),
outra encíclica que medita sobre a carta de São Paulo aos Romanos (8, 24) onde
é dito: «Pois a nossa salvação é
objeto de esperança; e ver o que se espera, não é esperar. Acaso alguém espera
o que vê»?
Com
a publicação da encíclica Lumen Fidei, se completa a reflexão sobre as virtudes teologais, que marcam profundamente
matéria mais que abundante para assinalar o Ano da Fé que estamos a celebrar.
Esta encíclica continua o trabalho do antecessor do papa Francisco, no nº 7 diz
o seguinte: «Estas considerações sobre a fé — em continuidade com tudo o que o
magistério da Igreja pronunciou acerca desta virtude teologal — pretendem
juntar-se a tudo aquilo que Bento XVI escreveu nas cartas encíclicas sobre a caridade e a esperança. Ele já tinha quase concluído um primeiro esboço
desta carta encíclica sobre a fé. Estou-lhe profundamente agradecido e, na
fraternidade de Cristo, assumo o seu precioso trabalho, limitando-me a
acrescentar ao texto qualquer nova contribuição) (Lumen Fidei, nº 7).
O
papa Francisco destaca o centro da fé cristã, que se faz luz nos caminhos da
vida para libertar de todas as formas de trevas que oprimem a existência deste
mundo. Deste modo «a fé nasce no encontro com o Deus vivo, que nos chama e
revela o seu amor: um amor que nos precede e sobre o qual podemos apoiar-nos
para construir solidamente a vida» (nº 4).
Mais ainda, «deste modo, compreendemos que a fé não mora na escuridão, mas é uma luz para as nossas trevas. Dante, na Divina Comédia, depois de ter confessado diante de São Pedro a sua fé, descreve-a como uma «centelha / que se expande depois em viva chama / e, como estrela no céu, em mim cintila». [4] É precisamente desta luz da fé que quero falar, desejando que cresça a fim de iluminar o presente até se tornar estrela que mostra os horizontes do nosso caminho, num tempo em que o homem vive particularmente carecido de luz» (nº 4).
Mais ainda, «deste modo, compreendemos que a fé não mora na escuridão, mas é uma luz para as nossas trevas. Dante, na Divina Comédia, depois de ter confessado diante de São Pedro a sua fé, descreve-a como uma «centelha / que se expande depois em viva chama / e, como estrela no céu, em mim cintila». [4] É precisamente desta luz da fé que quero falar, desejando que cresça a fim de iluminar o presente até se tornar estrela que mostra os horizontes do nosso caminho, num tempo em que o homem vive particularmente carecido de luz» (nº 4).
Desde
o início do Cristianismo a fé apresenta-se como uma «mãe», uma imagem muito bonita
e envolvente que nos cativa bastante se tivermos em conta a importância e o valor
de uma mãe na vida de cada pessoa. Uma passagem belíssima a seguinte: «Nas
Actas dos Mártires, lemos este diálogo entre o prefeito romano Rústico e o
cristão Hierax: «Onde estão os teus pais?» — perguntava o juiz ao mártir; este
respondeu: «O nosso verdadeiro pai é Cristo, e nossa mãe a fé n’Ele». [5] Para
aqueles cristãos, a fé, enquanto encontro com o Deus vivo que Se manifestou em
Cristo, era uma «mãe», porque os fazia vir à luz, gerava neles a vida divina,
uma nova experiência, uma visão luminosa da existência, pela qual estavam
prontos a dar testemunho público até ao fim» (Nº 5).
A encíclica na sua quase totalidade é um magnífico documento sobre a grandeza do amor, o amor de Deus e o amor que se expressa entre as pessoas, cujo amor autêntico radica sobre o amor verdade e não amor mais ligado apenas aos sentimentos como tantas vezes a sociedade deste tempo vai vivendo e fazendo crer.
A encíclica na sua quase totalidade é um magnífico documento sobre a grandeza do amor, o amor de Deus e o amor que se expressa entre as pessoas, cujo amor autêntico radica sobre o amor verdade e não amor mais ligado apenas aos sentimentos como tantas vezes a sociedade deste tempo vai vivendo e fazendo crer.
A luz da fé ajuda a descobrir esse amor assente na verdade, e diz assim: «É
conhecido o modo como o filósofo Ludwig Wittgenstein explicou a ligação entre a
fé e a certeza. Segundo ele, acreditar seria comparável à experiência do
enamoramento, concebida como algo de subjectivo, impossível de propor como
verdade válida para todos. [19] De facto, aos olhos do homem moderno, parece
que a questão do amor não teria nada a ver com a verdade; o amor surge, hoje,
como uma experiência ligada, não à verdade, mas ao mundo inconstante dos
sentimentos» (Nº 27). Esperemos que toda a poluição à volta dos casamentos não
venha contaminar a belíssima doutrina que esta encíclica reescreve.
Neste âmbito o nº 34 reveste-se de uma importância extraordinária e coloca a fé no centro da relação com Deus que se expressa na fraternidade, no encontro com os outros, sem qualquer sombra de imposição e violência. Escutemos: «A luz do amor, própria da fé, pode iluminar as perguntas do nosso tempo acerca da verdade. Muitas vezes, hoje, a verdade é reduzida a autenticidade subjectiva do indivíduo, válida apenas para a vida individual. Uma verdade comum mete-nos medo, porque a identificamos — como dissemos atrás — com a imposição intransigente dos totalitarismos; mas, se ela é a verdade do amor, se é a verdade que se mostra no encontro pessoal com o Outro e com os outros, então fica livre da reclusão no indivíduo e pode fazer parte do bem comum. Sendo a verdade de um amor, não é verdade que se impõe pela violência, não é verdade que esmaga o indivíduo; nascendo do amor pode chegar ao coração, ao centro pessoal de cada homem; daqui resulta claramente que a fé não é intransigente, mas cresce na convivência que respeita o outro. O crente não é arrogante; pelo contrário, a verdade torna-o humilde, sabendo que, mais do que possuirmo-la nós, é ela que nos abraça e possui. Longe de nos endurecer, a segurança da fé põe-nos a caminho e torna possível o testemunho e o diálogo com todos».
Mais ainda se deve guardar como convicção importante esta máxima: «A fé desperta o sentido crítico». Isto é algo de novo e interessante, porque vem dizer que a fé que não reflecte para pouco serve. Mais ainda que a fé sempre convida a estar atento à realidade e que em nenhum momento nos faz ser gente amorfa perante a realidade que nos rodeia. Conscientes e sujeitos activos, militantes.
Neste âmbito o nº 34 reveste-se de uma importância extraordinária e coloca a fé no centro da relação com Deus que se expressa na fraternidade, no encontro com os outros, sem qualquer sombra de imposição e violência. Escutemos: «A luz do amor, própria da fé, pode iluminar as perguntas do nosso tempo acerca da verdade. Muitas vezes, hoje, a verdade é reduzida a autenticidade subjectiva do indivíduo, válida apenas para a vida individual. Uma verdade comum mete-nos medo, porque a identificamos — como dissemos atrás — com a imposição intransigente dos totalitarismos; mas, se ela é a verdade do amor, se é a verdade que se mostra no encontro pessoal com o Outro e com os outros, então fica livre da reclusão no indivíduo e pode fazer parte do bem comum. Sendo a verdade de um amor, não é verdade que se impõe pela violência, não é verdade que esmaga o indivíduo; nascendo do amor pode chegar ao coração, ao centro pessoal de cada homem; daqui resulta claramente que a fé não é intransigente, mas cresce na convivência que respeita o outro. O crente não é arrogante; pelo contrário, a verdade torna-o humilde, sabendo que, mais do que possuirmo-la nós, é ela que nos abraça e possui. Longe de nos endurecer, a segurança da fé põe-nos a caminho e torna possível o testemunho e o diálogo com todos».
Mais ainda se deve guardar como convicção importante esta máxima: «A fé desperta o sentido crítico». Isto é algo de novo e interessante, porque vem dizer que a fé que não reflecte para pouco serve. Mais ainda que a fé sempre convida a estar atento à realidade e que em nenhum momento nos faz ser gente amorfa perante a realidade que nos rodeia. Conscientes e sujeitos activos, militantes.
A religiosidade que inferiorize não serve para nada e a verdadeira
religiosidade não pode senão libertar das trevas para a dignidade da condição
humana, serviço que se deve tomar a peito para levar adiante numa prática
militante sobre todas as coisas que somos capazes de realizar. «O homem
religioso procura reconhecer os sinais de Deus nas experiências diárias da sua
vida, no ciclo das estações, na fecundidade da terra e em todo o movimento do
universo. Deus é luminoso, podendo ser encontrado também por aqueles que O
buscam de coração sincero. Quem se põe a caminho para praticar o bem, já se
aproxima de Deus, já está sustentado pela sua ajuda, porque é próprio da
dinâmica da luz divina iluminar os nossos olhos, quando caminhamos para a
plenitude do amor» (Nº 35).
Mais
ainda se pode dizer que na luz que cada pessoa representa, eis o caminho da
nossa fé para ser vivido no amor verdade. Nisso se expressa a verdadeira
natureza de Deus, cujo «modelo» maior foi Jesus Cristo.
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