O
silêncio que se procura para fugir à azáfama do quotidiano deve ser sempre
qualquer coisa de essencial para o equilíbrio psicológico da vida humana. O dia
a dia está cheio de muitas contrariedades que nos maçam a vida e não servem
para a descoberta do sentido da nossa origem, para que estamos aqui e para onde
vamos.
Uma
pessoa que perante os dissabores que a vida amorosa muitas vezes proporciona,
pode cair no desespero e facilmente perde a noção da existência como valor,
porque se vê sem forças para lutar e na mais pura inutilidade. O vazio interior
é o pior inimigo de qualquer ser humano.
Por
isso, os silêncios são a melhor força interior para vencer os obstáculos que se
colocam diante de uma história pessoal. Como se encontra esse silêncio? Numa
busca constante pelos lugares e pelas mediações que façam ecoar essa condição
da alma. Com toda a certeza que não será no rebuliço de uma cidade movimentada
com carros e muitas pessoas. Também não será na confusão diária das tarefas e
das relações conturbadas com os colegas de trabalho. E não será na ocupação
total do tempo com muitas actividades. Nem muito menos perante o vazio das
propostas que alguns meios de comunicação social nos apresentam.
Só
o recolhimento pode proporcionar a descoberta do silêncio, que se pode
encontrar em qualquer lugar que cada um considere apropriado para fazer o
desvelamento dessa realidade como possibilidade de encontro interior com o
valor da vida e com a realização de todo o bem que conduz à felicidade.
Sobre
o suicídio da Cândida Branca Flor em 2001, alguém escreveu o seguinte: «A
Cândida Branca Flor sonhou ser popular e cedeu demais na qualidade»; «Não
construiu uma família: condescendeu em não ter filhos»; «Como era filha única,
também não tinha irmãos»; «Quando morreu, não tinha ninguém: nem pais, nem
irmãos, nem filhos, nem sobrinhos – só uma mãe adoptiva»; «E, quando o declínio
físico se tornou mais visível, ficou também sem agentes, sem amigos, sem
contractos e sem dinheiro»; «A solidão de Cândida Branca Flor não foi,
entretanto, um problema só dela: é um problema desta sociedade»... E pelos contornos de cada um dos suicídios que por estes dias acontecem entre nós bem revelam esse problema em que está mergulhada a sociedade. Em cada suicídio, é mais um pedaço de nós que se vai.
Só os silêncios libertam da ruína do desespero. Neles e por eles emerge
no interior de cada um a descoberta do sentido absoluto da vida.
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