1. Um ponto de ordem. Não tenho nada contra
o Pai Natal, mas tenho contra a injustiça de não haver uma Mãe Natal tão famosa
e querida como é o Pai Natal por todas as crianças.
Nada tenho contra este imaginário, porque
considero que o Pai Natal, até pode ser uma bela homenagem e um incentivo ao
respeito pelas pessoas idosas. É sempre estranho que as crianças sejam
incentivadas a «adorarem» o Pai Natal e que recebam péssimos exemplos dos adultos
de falta de respeito em relação aos idosos que estão lá em casa. Por isso, o
velhinho de barbas brancas, vestido de vermelho, para além daquilo que fizeram
dele - um frenético caixeiro viajante despachante de prenda - pode ser, também
uma ótima imagem que convida a olhar todos os idosos com carinho, alegria e
respeito, mesmo que não deem prendas materiais, podem dar a beleza do seu passado,
recheado de valores: a bondade, a fé e a esperança. Eles são oceanos imensos de
memórias que se encontrarem corações disponíveis para as escutarem e beberem
podem ser muito interessantes para construção da vida e do mundo futuros.
2. No entanto, gostaria de pensar hoje,
neste banquete, um pouco sobre a geração Pai Natal. Sobre esta geração de
crianças levadas ao colo pelos pais aos aeroportos e centros comerciais para
assistirem à «chegada do Pai Natal» - que por ser tão importante merece
reportagem de televisão - por isso, vemos o Pai Natal de saco carregado de
prendas a sair do avião, a descer por uma corda do teto para baixo e a misturar-se
no meio das crianças em grande algazarra.
Como será esta geração? Que valor
transmite este imaginário, esta encenação irrealista que não beneficia as
crianças, mas a lógica comercial e mercenária do hedonismo e do capitalismo em
que estamos mergulhados? Como será uma criança que cresce a pensar que há um
velhinho que lhe trás prendas pelo Natal, mas que depois mais tarde descobre
que os seus pais é alimentavam essa falsidade? Não seria mais benéfico, pensarem
desde tenra idade, que os presentes são fruto do trabalho, da poupança e do
amor dos seus pais?
3. Não tenho respostas seguras para
estas perguntas. Porém, podemos ensaiar alguma coisa a partir do que vamos
vendo no comportamento de tanta gente, que vive a sua bela etapa da
adolescência e da juventude e, alguns que mesmo ainda nessa fase etária, já são
pais. A maior parte não tem culpa, não reflete muito sobre os seus
comportamentos, deixa-se seduzir pela publicidade, pelo ambiente geral que se
vive e não tem noção daquilo que faz, embarca por arrasto, dando aos seus
filhos aquilo que os outros têm para que os seus não se sintam inferiorizados
ou desprezados. Infelizmente, não é difícil ser arrastado pelo ambiente
predominante, pensar e agir como a maioria age.
4. Penso que a geração Pai Natal, é uma
geração muito exigente com os outros e pouco ou nada exigente consigo mesma.
Não admira nada que às vezes encontremos crianças que são autênticos pequenos ditadores
em casa dos pais, exigindo em termos de prendas o mundo e o fundo, sem que muitas
vezes os seus pais não possam dar. A geração Pai Natal é a geração das
facilidades, habituada a ter tudo sem trabalho e sem esforço. Uma geração
frágil em termos de saúde física, psicológica e espiritual. Qualquer situação
adversa os deita a baixo, desesperam facilmente ou entram em depressão com
frequência, porque não aprenderam a conviver com o «não», com as frustrações e
com os insucessos.
A geração Pai Natal é aquela que
aprendeu a abrir o saco e tirar tudo de lá dentro. A vida não é assim que se
constrói, deve existir muito mais do que o tudo presenteado.
E porque estamos em
clima de Natal, que este Natal nos traga os verdadeiros presentes, que sejam
mais da ordem espiritual e menos materialistas, para que tenhamos uma nova
geração, que dê valor ao esforço, ao trabalho, à partilha, à amizade, a
partilha dos bens e da vida em relação aos outros. Estes presentes não existem
dentro do saco do Pai Natal.
2 comentários:
Tiempo sin pasar por aquí, José Luis.
Quiero dejarle mis saludos y mis mejores deseos.
FELIZ NAVIDAD.
Lola Barea.
Muito obrigado e igualmente...
Enviar um comentário