1. As palavras de Bento XVI, lidas pelo
seu fiel secretário o arcebispo Georg Gänswein, na catedral de Colónia, na
missa do funeral do cardeal Joachim Meisner, abalaram a secular colunata de
Bernini do Vaticano e entusiasmaram as ostes que andam meias entretidas a «combater»
as intenções de reformas que o Papa Francisco alimenta e que aqui ou ali sempre
vai dizendo que precisam de serem feitas.
2. As palavras em causa são estas: «O
Senhor não abandona a sua Igreja mesmo quando o navio está tão inundado que
quase se afunda», escreveu o Papa emérito Bento XVI. Estas palavras estão
inseridas no parágrafo onde faz um rasgado elogio ao cardeal defunto. Diz assim:
«Aquilo que mais me impressionou foi que, no período final da sua vida,
aprendeu a deixar-se estar e a viver cada vez mais na crença de que o Senhor
não abandona a sua Igreja, mesmo quando o navio está tão inundado que quase se
afunda».
3. Acho que não se deve dar muita
importância a estas palavras e devem ser enquadradas no contexto de um elogio
fúnebre, que em qualquer circunstância, é sempre um pau de dois bicos. Mais
ainda este de Bento XVI. Porque, pode servir para atirar contra o Papa Francisco,
mas também pode servir para atirar contra o Papa Bento XVI, porque ele foi o
primeiro a abandonar «o navio que se afunda» há quatro anos. Se pretende criticar
o Papa Francisco, pelos desejos que manifesta em fazer reformas, então não são bem
vindas estas palavras e mais uma vez saltam de contentes todos os oportunistas
que não aceitam as ações do Papa Francisco.
4. No entanto, estas palavras são bem
vindas, se no pensamento do Papa emérito estavam os escândalos sexuais do
cardeal George Pell, terceira figura mais importante no Vaticano, com a pasta
da Economia, que foi acusado de abusos sexuais na Austrália. Uma semana depois,
a polícia italiana interrompe num apartamento da Congregação da Doutrina da Fé uma
orgia homossexual. Era o apartamento, onde também foram encontradas drogas,
pertencentes ao secretário pessoal do cardeal Francesco Coccopalmerio, que é um
dos principais conselheiros do Papa Francisco. Deve ser claramente esta
tempestade que está na cabeça do Papa emérito quando escrevia o elogio fúnebre
e que ele considera que está meter água dentro do «navio que quase se afunda».
5. A relação entre o
Papa emérito Bento XVI e o Papa Francisco tem sido marcada por respeito público
e fraterna cooperação. Por isso, acredito que estas palavras não têm qualquer
intenção de beliscar o caminho do Papa Francisco nem muito menos serem um incentivo
para os seus detratores.
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