A tempestade abala outra vez a «Barca de Pedro»...
1. A onda de escândalos que assola a
Igreja Católica a partir do seu topo, revela a fragilidade de uma estrutura
formada por homens feitos da mesma massa que todos os demais. Não há sobre humanidade
(«super homens») mesmo que alguns sejam consagrados, iluminados e bafejados
pela sorte da inteligência, do poder e da importância hierárquica… Tudo é deste
mundo, tudo é desta vida, cheia de misérias e limitações, que ninguém por mais importante
que seja pode dizer que está livre.
O Papa Francisco está confrontado com uma
crise grave, que deve abalar profundamente o seu interior e mais do que nunca
precisa da nossa oração para que se mantenha firme e Deus o fortaleça na
coragem para continuar animado na condução da «Barca de Pedro».
2. Os casos de misérias sucedem-se e têm
sido denunciados pela comunicação social. É primeira verdadeira crise do Papa
Francisco.
A renúncia de Marie Collins
da Comissão para a Proteção dos Menores, em março, o adeus repentino de um
profissional de primeiro nível como Libero Milone do seu cargo de Auditor Geral das contas do Vaticano,
o caso do neocardeal do Mali, Jean Zerbo, incapaz de explicar o destino de 12 milhões
depositados em seu nome em bancos suíços, o brusco afastamento do cardeal George Pell
– membro do conselho da coroa dos nove cardeais que aconselham o papa e responsável
pela Secretaria económica da Santa Sé –, forçado a viajar para a Austrália para
responder às acusações de abuso sexual, a inesperada remoção do prefeito da Congregação
para a Doutrina da Fé, cardeal Gerhard Ludwig Müller, a sua substituição à frente do ex-Santo
Ofício pelo jesuíta Luis Ladaria
Ferrer, que se revelou signatário de um documento que convidava o bispo de Lucera
a não escandalizar os fiéis com a notícia da renúncia do estado sacerdotal do
padre pedófilo Gianni Trotta (que, aproveitando-se do silêncio, se tornaria
treinador de uma equipa juvenil de futebol, cometendo novos crimes), denúncia de
que a polícia do Vaticano interrompeu uma orgia gay, com drogas, no apartamento
do secretário de um cardeal que é um dos conselheiros do Papa…
3. Esta crise revela claramente também
que estamos perante uma crise do Vaticano. Uma estrutura pesada, onde se
instalaram uma porção enorme de hierarcas vindos de todo o mundo e que ali
assentaram arraiais no bem bom das mordomias que todas as estruturas bem
cimentadas sempre proporcionam.
O Vaticano tem que ser uma estrutura
limpa, onde aqueles que são chamados a colaborarem têm que sentir que estão por
ali de passagem e que a sua missão está ao serviço da humanidade. Não podem ser
entregues graves responsabilidades a corruptos, tarados sexuais, prepotentes que nunca souberam o que é a humildade e gente que nos lugares de onde provêm já deram provas que não
são dignos de assumirem qualquer cargo dentro da Igreja Católica em nenhuma
parte do mundo.
O Vaticano tem que se tornar uma mediação
de serviço exemplar, onde se respira Evangelho do Mestre Jesus de Nazaré e onde
se concretiza em primeiro lugar as ideias do Papa Francisco de uma «Igreja em
caminho», sinal de que é um «hospital de campanha», para tratar a feridas da
humanidade, especialmente, todos os que as sociedades descartam. Sem este
exemplo de cima para baixo pouco ou nada será possível quanto à reforma que o
Papa Francisco tanto almeja para toda a Igreja Católica.
4. A «Barca de Pedro» está a ser fustigada
com mais esta tempestade tremenda, ao seu leme está o Papa Francisco, aquele
que veio do «fim do mundo», para segurar o leme em circunstâncias bem difíceis,
tão difíceis que Bento XVI, se demitiu porque já não tinha «forças e saúde»
para comandar a barca face às investidas da tenebrosa tempestade. Aí vemos como
as coisas estavam e como continuaram a descambar mesmo até com todo o afã
reformista e a acutilância da mensagem de Francisco.
Estamos então perante elementos
profundamente chocantes, porque mancham, uma realidade que se espera exemplar e
que seja inspiração todas as estruturas humanas.
Esta crise prova mais uma vez que não
basta proclamar que vamos reformar, é preciso concretamente escolher equipas de
pessoas que comunguem dos mesmos desejos de reformas. Aqui pode ter havido uma
falha grave do Papa Francisco e que lhe está a ser tão custoso.
Todos sempre dizem que caindo um chefe
em qualquer serviço da Igreja, cai toda a máquina, na prática quase nunca é
assim. O Papa Francisco fez o que toda a gente faz quando é nomeada para
qualquer missão dentro da Igreja, mas que depois, com o tempo, possa revelar-se
cruelmente dissaboroso para quem mantém tudo como está, as mesmas estruturas e as
mesmas pessoas, em nome da caridade e com o pretexto de que ainda não se
conhece o meio, muito menos as pessoas que lá estão. É aceitável que isto
aconteça a um simples pároco, que chega e não conhece as pessoas nem o lugar, e
se dispensa o organista ou a pessoa da ornamentação e limpeza da Igreja corre o
risco de ficar desarmado. Porém, nas grandes estruturas como o Vaticano e até
mesmo numa Diocese, já não é aceitável que assim seja, porque há muitas possibilidades
com muitas pessoas ao dispor para organizar da forma como pretende conduzir a sua
missão o Bispo e o Papa.
O Papa Francisco, em
nome da caridade, do respeito pelos seus antecessores Bento XVI e João Paulo
II, que construíram uma estrutura vaticanista cerrada, deixou que se
mantivessem nas cúpulas dos serviços as mesmas pessoas com as mesmas equipas. Mas,
uma Igreja dinâmica e sempre reformada, como deseja o Papa, não pode manter-se
assim fechada com as mesmas ideias e as mesmas pessoas anos e anos, correndo-se
o risco de se manter os vícios e as mordomias eternamente. Assim, pode ter
falhado o Papa Francisco, em não ter nomeado logo no início pessoas que
comungassem dos mesmos objetivos reformistas e de acordo com a Igreja que se
pretende para os nossos tempos. Neste sentido, a máquina trava o Papa Francisco
e com resultados desastrosos. Os rombos estão à vista de todos, é preciso
coragem, vontade e sabedoria para que o Espírito Santo revele, especialmente,
ao Papa Francisco, quais os caminhos seguir para que a tempestade amaine e a «Barca
de Pedro» possa seguir viagem sobre as ondas suaves do amor e da paz.
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