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sexta-feira, 7 de julho de 2017

Crise de Francisco, crise no Vaticano e crise na Barca de Pedro

A tempestade abala outra vez a «Barca de Pedro»...
1. A onda de escândalos que assola a Igreja Católica a partir do seu topo, revela a fragilidade de uma estrutura formada por homens feitos da mesma massa que todos os demais. Não há sobre humanidade («super homens») mesmo que alguns sejam consagrados, iluminados e bafejados pela sorte da inteligência, do poder e da importância hierárquica… Tudo é deste mundo, tudo é desta vida, cheia de misérias e limitações, que ninguém por mais importante que seja pode dizer que está livre.
O Papa Francisco está confrontado com uma crise grave, que deve abalar profundamente o seu interior e mais do que nunca precisa da nossa oração para que se mantenha firme e Deus o fortaleça na coragem para continuar animado na condução da «Barca de Pedro».

2. Os casos de misérias sucedem-se e têm sido denunciados pela comunicação social. É primeira verdadeira crise do Papa Francisco.
A renúncia de Marie Collins da Comissão para a Proteção dos Menores, em março, o adeus repentino de um profissional de primeiro nível como Libero Milone do seu cargo de Auditor Geral das contas do Vaticano, o caso do neocardeal do Mali, Jean Zerbo, incapaz de explicar o destino de 12 milhões depositados em seu nome em bancos suíços, o brusco afastamento do cardeal George Pell – membro do conselho da coroa dos nove cardeais que aconselham o papa e responsável pela Secretaria económica da Santa Sé –, forçado a viajar para a Austrália para responder às acusações de abuso sexual, a inesperada remoção do prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, cardeal Gerhard Ludwig Müller, a sua substituição à frente do ex-Santo Ofício pelo jesuíta Luis Ladaria Ferrer, que se revelou signatário de um documento que convidava o bispo de Lucera a não escandalizar os fiéis com a notícia da renúncia do estado sacerdotal do padre pedófilo Gianni Trotta (que, aproveitando-se do silêncio, se tornaria treinador de uma equipa juvenil de futebol, cometendo novos crimes), denúncia de que a polícia do Vaticano interrompeu uma orgia gay, com drogas, no apartamento do secretário de um cardeal que é um dos conselheiros do Papa…

3. Esta crise revela claramente também que estamos perante uma crise do Vaticano. Uma estrutura pesada, onde se instalaram uma porção enorme de hierarcas vindos de todo o mundo e que ali assentaram arraiais no bem bom das mordomias que todas as estruturas bem cimentadas sempre proporcionam.
O Vaticano tem que ser uma estrutura limpa, onde aqueles que são chamados a colaborarem têm que sentir que estão por ali de passagem e que a sua missão está ao serviço da humanidade. Não podem ser entregues graves responsabilidades a corruptos, tarados sexuais, prepotentes que nunca souberam o que é a humildade e gente que nos lugares de onde provêm já deram provas que não são dignos de assumirem qualquer cargo dentro da Igreja Católica em nenhuma parte do mundo.
O Vaticano tem que se tornar uma mediação de serviço exemplar, onde se respira Evangelho do Mestre Jesus de Nazaré e onde se concretiza em primeiro lugar as ideias do Papa Francisco de uma «Igreja em caminho», sinal de que é um «hospital de campanha», para tratar a feridas da humanidade, especialmente, todos os que as sociedades descartam. Sem este exemplo de cima para baixo pouco ou nada será possível quanto à reforma que o Papa Francisco tanto almeja para toda a Igreja Católica.

4. A «Barca de Pedro» está a ser fustigada com mais esta tempestade tremenda, ao seu leme está o Papa Francisco, aquele que veio do «fim do mundo», para segurar o leme em circunstâncias bem difíceis, tão difíceis que Bento XVI, se demitiu porque já não tinha «forças e saúde» para comandar a barca face às investidas da tenebrosa tempestade. Aí vemos como as coisas estavam e como continuaram a descambar mesmo até com todo o afã reformista e a acutilância da mensagem de Francisco.
Estamos então perante elementos profundamente chocantes, porque mancham, uma realidade que se espera exemplar e que seja inspiração todas as estruturas humanas.
Esta crise prova mais uma vez que não basta proclamar que vamos reformar, é preciso concretamente escolher equipas de pessoas que comunguem dos mesmos desejos de reformas. Aqui pode ter havido uma falha grave do Papa Francisco e que lhe está a ser tão custoso.  
Todos sempre dizem que caindo um chefe em qualquer serviço da Igreja, cai toda a máquina, na prática quase nunca é assim. O Papa Francisco fez o que toda a gente faz quando é nomeada para qualquer missão dentro da Igreja, mas que depois, com o tempo, possa revelar-se cruelmente dissaboroso para quem mantém tudo como está, as mesmas estruturas e as mesmas pessoas, em nome da caridade e com o pretexto de que ainda não se conhece o meio, muito menos as pessoas que lá estão. É aceitável que isto aconteça a um simples pároco, que chega e não conhece as pessoas nem o lugar, e se dispensa o organista ou a pessoa da ornamentação e limpeza da Igreja corre o risco de ficar desarmado. Porém, nas grandes estruturas como o Vaticano e até mesmo numa Diocese, já não é aceitável que assim seja, porque há muitas possibilidades com muitas pessoas ao dispor para organizar da forma como pretende conduzir a sua missão o Bispo e o Papa.
O Papa Francisco, em nome da caridade, do respeito pelos seus antecessores Bento XVI e João Paulo II, que construíram uma estrutura vaticanista cerrada, deixou que se mantivessem nas cúpulas dos serviços as mesmas pessoas com as mesmas equipas. Mas, uma Igreja dinâmica e sempre reformada, como deseja o Papa, não pode manter-se assim fechada com as mesmas ideias e as mesmas pessoas anos e anos, correndo-se o risco de se manter os vícios e as mordomias eternamente. Assim, pode ter falhado o Papa Francisco, em não ter nomeado logo no início pessoas que comungassem dos mesmos objetivos reformistas e de acordo com a Igreja que se pretende para os nossos tempos. Neste sentido, a máquina trava o Papa Francisco e com resultados desastrosos. Os rombos estão à vista de todos, é preciso coragem, vontade e sabedoria para que o Espírito Santo revele, especialmente, ao Papa Francisco, quais os caminhos seguir para que a tempestade amaine e a «Barca de Pedro» possa seguir viagem sobre as ondas suaves do amor e da paz.

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