Comentário ao domingo XVII
Tempo Comum
A 1.ª leitura deste domingo vem dar-nos
conta do início da história de Salomão, o filho de David que a memória do povo
de Deus consagrou como paradigma de sabedoria, a ponto de lhe atribuir a
autoria de boa parte da literatura bíblica sapiencial.
Salomão em sonho - forma de comunicação
muito utilizada por Deus com a humanidade na tradição bíblica - implora a
adesão interior à vontade de Deus numa total sintonia com o seu desígnio de
salvação. Nisto consistia a sabedoria que o rei Salomão ansiava para governar o
povo de Deus. Se este sentimento estivesse presente no coração dos governantes,
nós teríamos uma sociedade mais justa e mais dentro dos parâmetros do bem-estar
que se deseja para todos os povos. O que se deseja seriam governantes
interessados apenas e só no bem para todos. Governantes menos envolvidos em
negociatas e emaranhados numa infindável rede de interesses do grupo ou do
partido a que pertencem. Governantes menos envolvidos na lógica de que os
interesses pessoais são a regra para todas as medidas. Salomão revela que só a
sabedoria pode fazer com que tenhamos governantes guiados pela lógica do
serviço a todas. Precisamos de líderes que governem com a verdade e a justiça
como luz que ilumina os dias de quem governa e de quem é governado. Para isto
não há alternativas.
No Evangelho temos as parábolas sobre o
Reino de Deus, a do tesouro e a da pérola, a da rede lançada ao mar que é
recolhida e a conclusão do discurso com um elogio aos escribas que se tornaram
discípulos. Estes serão os mais instruídos do grupo dos discípulos, que são
capazes de recolher do tesouro da Palavra de Deus coisas velhas (alusão ao Antigo
Testamento) e coisas novas (Novo Testamento), isto é, serão eles que farão a
conciliação entre a literatura antiga e a novidade do Evangelho.
De resto, Jesus pretende ensinar que o
Reino de Deus é algo muito precioso e para O viver não pode ser de forma
marginal e episódica, é algo vital e precioso que requer uma entrega radical
como modo de ser e de estar na vida. O desafio que nos é feito, é que sejamos
capazes de descobrir todo valor do Reino de Deus e na vida concreta do mundo
sejamos capazes de levar à prática, com coragem e firmeza, o sentido da vida
que «o tesouro do Reino» nos fez descobrir.
Se somos felizes, façamos os outros
felizes, se a verdade nos liberta lutemos contra toda a mentira, se a justiça
nos realiza lutemos contra toda a injustiça, se a desesperança deprime lutemos
contra toda a esperança, se o amor edifica então edifiquemos com amor... Só
assim o Reino de Deus é presença na vida concreta de cada pessoa. Esta é uma
definição bem concreta do que é o Reino de Deus neste mundo.
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