«Deus e eu» com Ivo Caldeira. Obrigado por este manjar de Deus...
Para início de
conversa, gostava que soubesses que, para alguns dos meus conhecidos, não estás
muito bem visto, por estes dias. O pessoal não se conforma com tanta injustiça,
com vidinhas menores e, pior, com os horrores das guerras, doenças e de outras situações
negativas com que todos os dias somos obrigados a conviver à hora dos
telejornais. Para eles há só um responsável pela situação a que chegámos: Tu.
A
fome de justiça e liberdade é tanta que até esquecem as (muitas) coisas boas da
vida, as viagens, as amizades, a música, a poesia... Eu nem sei bem como me
devo dirigir para falar Contigo. Afinal ninguém pôs a vista no teu Cartão de
Cidadão (do Universo, presumo); ninguém sabe de teus pais e outros familiares;
nem do local e data do Teu nascimento. Isso era elementar para conversarmos
olhos nos olhos, mas está visto que não podemos ir por aí: ficarias demasiado
humano, demasiadamente colado à nossa imagem, às nossas fragilidades. Ao que
dizem, há um aspeto importante em que Tu não falhas: dás ouvidos a todos, quer
sejam ricos ou pobres, quer se dirijam a Ti com um simples sussurro ou em voz
alta; sozinhos ou em multidão. Mas o estranho nos homens é invocarem-Te para
proclamarem, do fundo do coração, que estão do lado da Paz, para logo a seguir
usarem o Teu nome para as mais cruéis campanhas guerreiras. Foi assim desde o
início da caminhada da humanidade até hoje.
Desde a primeira formulação de uma
ideia de Deus (vários Deuses) até ao Deus único que És, para milhões de crentes
das principais religiões monoteístas, cujos seguidores andam sempre à bulha.
Por um pedaço de terra. Por água. Por pão. Por poder. Por sei lá o quê. E Tu
assistes a tudo – asseguram. Será que a Tua responsabilidade no que se passa
terminou no dia da Criação? A partir daí estamos por nossa conta e risco? Não
sei se estamos capazes de assumir tamanho peso.
Basta olhar para o perigo
nuclear. Ou para o desinteresse de Trump para com as alterações climáticas e o
mau estado do ambiente. Espero que não te ofendas com tantas interrogações, que
são de ontem e de hoje. São muitos os que Te aceitam como Senhor absoluto e
sabedor. Mas também alguns suspeitam que não És mais do que uma imagem criada
pelo próprio ser humano, para servir de última instância quando não tem
resposta para as suas dúvidas ou dramas. Mas, seja qual for o patamar da
relação Contigo a que chega cada ser humano, aparece sempre uma pergunta a que
gostaria que respondesses: afinal, quem és Tu? Respeitosamente,
Ivo Caldeira
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