Esta semana «Deus
e eu» com o professor Rui Caetano. Muito obrigado caro amigo Rui. Retive tudo o que dizes tão bem, mas mais ainda o seguinte: «Deus está num aqui e num ali, à beira de tudo, a responder a cada uma das minhas inquietações». É isto... Que Ele nos ajude sempre.
Deus é metáfora. É vida. Cresci num
ambiente familiar onde era hábito questionar tudo, inclusive, a existência do
divino afastado do susto da realidade e fora do alcance das mãos. À volta de um
ar de esperança, Jesus, além de se encontrar preso a um prego, nas paredes de
cal branca dos quartos, ao lado de Nossa Senhora, com o coração à vista, ambos
a contemplarem o Menino estendido em cima de um tampo de mogno brilhante,
estava presente em algumas das nossas conversas que surgiam a propósito de um
acontecimento ou quando estávamos a
divagar, sentados no chão da soleira da porta. Tentávamos perceber, por um
lado, o sentido da Sua ausência nos momentos de enorme sofrimento e, por outro,
alimentar a nossa desilusão perante a lógica da Sua vontade que não corrigia as
situações de profunda injustiça na Terra.
Longe das certezas, cheios de nadas,
acreditávamos no mundo de seres humanos que nasceram do Verbo em berços de
inocência, embora não nos espantássemos com as vozes gastas daqueles que, sem
exemplo nem espelhos de água, falavam do amor de Deus ao mesmo tempo que nos
benziam com a cruz do medo. Duvidávamos dos paradoxos dos milagres e do excesso
de santos de pedra dura que enchiam o espírito da sociedade.
Por vezes, ainda ando perdido entre os
escombros das palavras, com falta de tempo para ler os
silêncios que cobrem o mistério dos meus caminhos, mas nunca perco a razão do
amanhã, porque não me contento em viver à tona de uma qualquer luz. Deus está
num aqui e num ali, à beira de tudo, a responder a cada uma das minhas
inquietações. A vida, apesar de crescer sobre os acasos dos instantes, surgiu
com a convicção de que um dia conhecerá o que existe no lado de dentro do barro
que nos moldou.
Rui
Caetano
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