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sábado, 14 de outubro de 2017

A humildade

Ao Sétimo Dia
Imagem Google
No poema «Exercício Espiritual» Miguel Torga, in «Diário (1939)», reza assim: «Ouço-os de todo o lado. / Eu é que sou assim. / Eu é que sou assado, / Eu é que sou o anjo revoltado, / Eu é que não tenho santidade... / Quando, afinal, ninguém / Põe nos ombros a capa da humildade, / E vem». Este pequeno, mas maravilhoso texto vai ajudar-nos a pensar sobre a humildade neste nosso «Ao Sétimo Dia».
A humildade é o que há de mais importante no mundo, é como uma luz, que ilumina a vida de quem a pratica e a vida de quem venha a saborear dessa prática. Porém, é das luzes mais difíceis de acendermos. É bem verdade que é uma pérola rara, mas quando ela brilha na vida de qualquer pessoa, dá nas vistas sem esforço e faz encantar quem reparar que nessa pessoa ela fez habitação.
A humildade é perseguida pelo egoísmo, a ganância e a inveja. Estas armas destroem o mundo e esterilizam tudo à sua volta. A política, a religião, a vida familiar, os grupos, as comunidades e todas as mediações onde se congregam pessoas, estão cheios destes eucaliptos que estendem raízes a todos os recantos, matando a igualdade de oportunidades, o direito que assiste a todos participarem, a fidelidade a princípios e o cumprimento das promessas. A falta de humildade ou a humildade sufocada pelos intentos demoníacos citados, faz valer um vale tudo, que atropela as regras e faz fervilhar a corrupção, a tristeza, a falta de paz e todas as desgraças que consomem a vida da humanidade.
A falta de humildade está a corroer a vida de todos e a fazer nascer um mundo desastroso, sem luz que ilumine as sombras que nos escapam, aquelas que não podemos evitar, porque fazem parte do escorrer histórico. É uma grave irresponsabilidade não tomar a sério a missão, o emprego, o mandato e tudo o que faz a vida em sociedade com verdadeiro sentido de humildade.
A humildade é o bem maior do mundo. Somos pouco ou mesmo nada, como frequentemente dizemos, por isso, devemos tomar tudo o que somos e temos com verdadeira humildade, para que sejamos acolhidos no momento do sucesso e no momento do fracasso.
A humildade é um alimento que devemos ter sobre a mesa e nunca nos esquecermos de tomar a devida parte desse alimento que vai orientar o caminho em cada dia.
A humildade não é humilhação, mas uma grandeza que aos pés dos outros, os reconhece como o bem mais precioso para que eu seja o que sou e faça o que fui chamado fazer. Não deve ser por acaso que Rabindranath Tagore nos confirme esta ideia com a seguinte afirmação: «Quanto maiores somos em humildade, tanto mais próximos estamos da grandeza». Nunca é feio ser humilde, mas altamente vergonho, é alimentar-se de humilhações. 

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