Ao Sétimo Dia
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No poema
«Exercício Espiritual» Miguel Torga, in «Diário (1939)», reza assim: «Ouço-os
de todo o lado. / Eu é que sou assim. / Eu é que sou assado, / Eu é que sou o
anjo revoltado, / Eu é que não tenho santidade... / Quando, afinal, ninguém / Põe
nos ombros a capa da humildade, / E vem». Este pequeno, mas maravilhoso texto vai
ajudar-nos a pensar sobre a humildade neste nosso «Ao Sétimo Dia».
A
humildade é o que há de mais importante no mundo, é como uma luz, que ilumina a
vida de quem a pratica e a vida de quem venha a saborear dessa prática. Porém, é
das luzes mais difíceis de acendermos. É bem verdade que é uma pérola rara, mas
quando ela brilha na vida de qualquer pessoa, dá nas vistas sem esforço e faz
encantar quem reparar que nessa pessoa ela fez habitação.
A humildade
é perseguida pelo egoísmo, a ganância e a inveja. Estas armas destroem o mundo
e esterilizam tudo à sua volta. A política, a religião, a vida familiar, os
grupos, as comunidades e todas as mediações onde se congregam pessoas, estão
cheios destes eucaliptos que estendem raízes a todos os recantos, matando a
igualdade de oportunidades, o direito que assiste a todos participarem, a
fidelidade a princípios e o cumprimento das promessas. A falta de humildade ou
a humildade sufocada pelos intentos demoníacos citados, faz valer um vale tudo,
que atropela as regras e faz fervilhar a corrupção, a tristeza, a falta de paz
e todas as desgraças que consomem a vida da humanidade.
A falta de
humildade está a corroer a vida de todos e a fazer nascer um mundo desastroso,
sem luz que ilumine as sombras que nos escapam, aquelas que não podemos evitar,
porque fazem parte do escorrer histórico. É uma grave irresponsabilidade não
tomar a sério a missão, o emprego, o mandato e tudo o que faz a vida em
sociedade com verdadeiro sentido de humildade.
A humildade é o bem maior do
mundo. Somos pouco ou mesmo nada, como frequentemente dizemos, por isso,
devemos tomar tudo o que somos e temos com verdadeira humildade, para que
sejamos acolhidos no momento do sucesso e no momento do fracasso.
A humildade é um alimento que devemos
ter sobre a mesa e nunca nos esquecermos de tomar a devida parte desse alimento
que vai orientar o caminho em cada dia.
A humildade não é humilhação, mas
uma grandeza que aos pés dos outros, os reconhece como o bem mais precioso para
que eu seja o que sou e faça o que fui chamado fazer. Não deve ser por acaso que Rabindranath Tagore nos confirme esta ideia com a seguinte afirmação: «Quanto maiores somos em
humildade, tanto mais próximos estamos da grandeza». Nunca é feio ser humilde, mas
altamente vergonho, é alimentar-se de humilhações.
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