Escrever nas estrelas:
16 outubro de 2017
Não se tenha ilusão, vai continuar assim. A fragilidade assiste-nos e vai
continuar. Temos que aprender a conviver com isso... O sofrimento, a dor, a fragilidade
a todos os níveis… Deixou-se de aprender nas famílias e nas escolas. Temos que
regressar a essa educação para que o sofrimento e a morte sejam encarados com
esperança e não como fatalidade desesperante que merece sempre ter culpados
como bodes expiatórios que justifiquem a nossa irresponsabilidade e insucesso.
Mas vamos aos incêndios, que resultam de tanta coisa. Todos estamos cientes
disso, mas há razões que são as principais. A falta de políticas a sério que
deviam ser implementadas pelos governos, visível no desornamento do nosso
território, na prevenção e no ataque aos fogos quando eles acontecem; a perda
da rentabilidade da floresta; o gás butano engarrafado e canalizado; o desleixo
das populações, governos e autarquias; os interesses lucrativos das grandes
empresas madeireiras; os incendiários pirónamos que quando apanhados são
entregues à justiça e nunca se viu que levem penas exemplares; enfim, um dado
que se tornou comum dizer-se, a perda de valores e principalmente o desrespeito
pelo bem comum e a inconsciência ecológica. Pois, esquecia, deve estar a
pensar nas alterações climáticas, também, com certeza, mas já que sabemos delas
preparemo-nos para elas...
Todas estas razões entre todas as outras, resultam no terrorismo ambiental
sem precedentes que estamos a viver, com consequências trágicas em termos de
vítimas mortais, feridos, desalojados e na perda de património pessoal e das
famílias. Tudo isto significa mais pobreza, mais doenças, mais seca e um país
feio, sem manchas verdes tão importantes para os ecossistemas, para a beleza
paisagística tão importante para os nossos olhos, para a nossa sobrevivência e
economia.
Culpados? - Somos todos nós, que nos desleixamos nos períodos em que não
acontece nada, toca a construir como apetece, deitar lixo para o chão e nas
encostas, não limpar o que está à volta das casa, não reclamar com os vizinhos
nem muito menos com as autoridades que devem perseguir quem pisa o risco...
Nos momentos de calamidade só grita por culpados, quem nunca esteve numa
situação de incêndio com altas temperaturas e vento forte descontrolado.
O poder do fogo num contexto desses, nada o apaga. Gostei de ouvir um dos
autarcas, com o seu concelho todo queimado e com nove mortos contabilizados,
dizer com clareza, as labaredas e o vento eram forças divinas de tal ordem, que
podiam estar ali mil bombeiros que não as conseguiam apagar, o monstro era
muito grande.
As tragédias não precisam de demitidos, mas de responsáveis que assumam
inteiramente as suas responsabilidades para que o cuidado com os que sofrem
esteja a ser realizado em pleno. Após o período da tragédia, se se comprovar
que houve responsáveis que não estiveram lá, não disseram o que deviam dizer e
não fizeram o que deviam fazer, isso sim, olho da rua com eles. Fora isso, a
procura insaciável de culpados, não passará de bodes expiatórios e isso nada
resolve, mas complica ainda mais.
Aqui deixo duas modestas propostas para as matas e florestas.
Primeira, entregar uma boa parcela da floresta às populações, para que
possam tirar algum rendimento daí, a floresta é importante de mais e não deve
estar apenas e só na mão de latifundiários, que se alimentam do lucro desmedido
e que não olham a meios para o conseguir. O território pode ser dividido em
parcelas e entregue às famílias e ou populações para que cuidem e retirem algum
rendimento do seu trabalho e cuidado.
Segunda, as zonas onde não tenham árvores importantes, mas ervas, arbustos
e todo o género de plantas infestantes devem ser feitas queimadas controladas
nos períodos com menos calor no final da Primavera e no final do Inverno.
Assim, nos períodos de calor forte mesmo que surgissem incêndios não se propagavam
tanto e provavelmente ficariam circunscritos.
Conclusão, que sejam chamados à responsabilidade quem lucra com os
incêndios e caso tenham algo a ver com o terrorismo que nos assola devem ser
obrigados a pagar todas as despesas e indemnizações às famílias que estão
desoladas com os seus entes mortos e com a perda dos seus bens. Tudo deve ser
pensado, para que tudo possa ser combatido.
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