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segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Vou jantar fora com os cães

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1. O título soa um pouco mal, mas nos tempos que vivemos mais nada nos pode soar anormal, a não ser que abdiquemos de viver sem sabermos das coisas da vida que corre.

2. Os animais podem agora estar junto dos donos nos restaurantes numa zona fechada para o efeito, penso que será algo idêntico àquilo que se fez para fumadores. Nada tenho contra isso. Mas faço a seguinte ressalva em forma de pergunta, suponho que a lei contempla apenas gatos e cães, porque não estou a ver o meu amigo que cria um boi que chega atingir os 300 quilos a tentar levar o bicho ao restaurante para jantar?

3. Todos os animais devem ser bem tratados e não devem ser tolerados abusos e maus tratos contra nenhum animal. Mas começa a existir um certo exagero. Depois da obsessão legalista com os animais proliferaram clínicas, consultórios, hospitais, hotéis, amas secas e todo o género de coisas que só eram concebidas para pessoas. Tudo bem, se cuidássemos de igual forma as pessoas.

4. Tenho cães e procuro cuidar bem deles, na medida do possível, não lhes falta comida, o veterinário uma vez no ano, lavagem do pêlo de vez em quando e o espaço onde estão várias vezes por semana é limpo convenientemente. Estão bem. Mas não sei como vou encaixar nos meus parâmetros mentais a nova expressão: «vou jantar fora com os cães»…

5. Serve a minha inquietação para reclamar que há tanta gente - sim gente - daquela que tem dois pés e duas mãos e que anda na verticalidade, mas que nunca entrou num restaurante. Ou porque nunca ninguém se lembrou disso; ou porque não ganha o suficiente para gozar o prazer de comer num restaurante; ou porque moram longe dos centros urbanos, nas redondezas não há restaurantes; ou porque este mundo está tão desigual, com gente sem direitos, porque quem devia fazer valer os seus direitos canaliza-os exclusivamente para os animais e para hobbys caros, prevalecendo os prazeres mesquinhos contra o interesse comum da humanidade. Também gostava muito que os nossos representantes na «casa das leis» pensassem nisto com a mesma premência com que pensam nos animais.

6. Tomara que nunca percamos o gosto de estar juntos em família e com os amigos à volta da mesa, seja dentro de casa, seja fora de casa, para comer e para conviver fraternalmente, mas que os animais estejam nos seus lugares, obviamente, devidamente cuidados.

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