Comensal
divino
Foto: Notícias Magazine |
1. É normal que perante a morte
dos que foram vivos até há pouco tempo, nos tome o impulso para escrever ou
dizer alguma coisa, até ao dia em que alguém dirá também algo sobre nós mesmos.
A lei da vida material é esta. Mas, é com enorme vontade que ensaio dizer algo
sobre o Padre Manuel Nóbrega, que neste dia 24 de outubro de 2017, Deus fez
entrar na Sua imensidão divina, após uma caminha longa embrenhado na natureza.
Foi a meu ver o «sr. Botânica da Madeira». A forma como falava apaixonadamente sobre
a natureza, nomeando de cor cada planta, a sua espécie e a família, era bem
revelador. Um gosto ouvi-lo… Aqui pode ser lido.
2. O seu sacerdócio foi exercido
principalmente no altar da botânica, a sua enorme paixão foi a natureza. Era um
conhecedor exímio de cada folha, cada raiz, cada musgo, enfim, cada planta. A
natureza foi a sua amada, que lhe deu o saber científico, as descobertas, a
luz, os vestígios de Deus e o segredo do mistério criador que ele tentava
decifrar com o mais aturado estudo científico. Não raras vezes começa a sua
conversa: «mas isso explica-se cientificamente»...
3. O Padre Manuel Nóbrega era um
naturalista apaixonado pelo mundo, pelas plantas e por tudo o que rodeia a vida
natural, que quando respeitada, discorre equilibradamente. Não era muito
valorizado pela sociedade e muito menos era valorizado pela Igreja Católica.
Mas, não nos surpreende, que assim seja, o hábito há muito que nos calejou e
sempre nos lembra que enquanto vivos, os sábios, não têm lugar, porque a lógica
dos interesses e da inveja comandam a mesquinhez da vida. Os sábios não estão
para isso. O Padre Manuel Nóbrega estava acima disso, porque o seu sacerdócio
estava vincado e marcado pelo mistério da natureza, onde Deus fala com o seu
poder criador, que ele incansavelmente procurava desvendar cientificamente. Não
havia tempo para os golpes baixos do quotidiano.
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4. Os tempos do Seminário
seduziram-lhe a alma para o gosto pelas coisas da natureza. Na sequência disso
calcorreou vales e montes, veredas, cabeços, caboucos, levadas, abismos… À
procura da planta que faltava no museu, a pedra que nunca ninguém tinha visto e
o tronco que a lava tinha petrificado há milhares de anos. Foi o nosso botânico
ou o maior naturalista da Madeira. Ele, como é comum dizer-se, foi uma
biblioteca que ardeu. Porém, deixa um espólio invejável. Esperemos que seja
convenientemente aproveitado e que se faça dele um instrumento de estudo e que
ajude as gerações vindouras, já que esta que passa, só sabe valorizar o que tem
depois de estar morto.
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