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segunda-feira, 9 de outubro de 2017

O Padre António Vieira sob grande suspeita

Comensal divino:
  1. Estou perplexo como provavelmente uma boa porção do mundo, que já teve o prazer de ler os belíssimos pensamentos que o Padre António Vieira expressa nos seus famosíssimos sermões. 
  2. Levantou-se um movimento de radicais contra o pensamento do Padre António Vieira, acusando-o de ser um "escravagista seletivo". As ações contra Vieira têm se manifestado através de manifestos com dizeres ofensivos e têm sido vandalizadas as estátuas representativas desta figura ímpar da filosofia e da literatura portuguesas.  Afinal, segundo Fernando Pessoa, "é o imperador da língua portuguesa". 
  3. O problema para estes radicais idiotas que se levantam agora contra o Padre António Vieira está na negra batina, porque se fosse um maltrapilho revolucionário nada disto se passava e provavelmente já seria aceitável o seu pensamento. Tem azar Vieira pertencer a uma ordem religiosa, os jesuítas, que ao invés de apontar armas de fogo, aponta a palavra que anuncia a "revolução" do mundo e da humanidade com as armas do amor do Evangelho. 
  4. Como podemos acusar alguém de ser "escravagista" se nos seus sermões se pode ler o que há de mais belo contra a escravatura, a desigualdade e as injustiças? - Reparemos no que ele diz logo, no décimo quarto sermão - uma afirmação deste calibre é mais do que prova contra as investigas injustas contra Vieira, a afirmação vem a propósito de quem são os filhos da festejada Nossa Senhora do Rosário: “Se um destes Homens nascidos de Maria é Deus; o outro Homem, nascido de Maria, quem é? É todo o Homem que tem a fé e o conhecimento de Cristo, de qualquer qualidade, de qualquer nação, e de qualquer cor que seja, ainda que a cor seja tão diferente da dos outros Homens, como é a dos pretos.” 
  5. Num outro momento ensina o seguinte dirigindo-se aos escravos: “Os [mistérios] dolorosos são os que vos pertencem a vós, como os gozosos aos que, devendo-vos tratar como irmãos, se chamam vossos senhores”. O Padre António Vieira proclama a igualdade entre todos os homens ao ponto de elogiar desmedidamente a cor da humanidade negra e como lição para todos os tempos deixou este reparo como denúncia veemente: "Falando na linguagem da terra, celebram os brancos a sua festa do Rosário e hoje, em dia e acto apartado, festejam a sua os pretos e só os pretos. Até nas cousas sagradas, que pertencem ao culto do mesmo Deus, que fez a todos iguais, primeiro buscam os Homens a distinção que a piedade”.
  6. Enfim, deve ser por isso que na obra do Padre António Vieira também se pode encontrar a resposta aos seus acusadores de hoje e de todos os tempos: "Muitos não têm o coração dentro de si, senão fora de si e muito longe. Fora de si, porque não cuidam em si e muito longe de si, porque todos os seus cuidados andam só atentos e aplica­dos às coisas temporais e mundanas que amam". Deixo o apelo a toda a idiotice que por ai anda a semear a desordem e todo o mal injustamente, mais algum tempo de reflexão e estudo, podem fazer toda a diferença neste caso e em tantas outras situações desta vida.

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