Há uma lenda do Oriente
sobre um viajante que se dirigia para uma grande cidade. Uma noite conheceu
dois outros caminhantes. Um chamava-se Medo e outro Calamidade. Calamidade
explicou ao viajante que, quando chegassem ao destino, esperava-se que matassem
10 mil pessoas. O viajante perguntou à Calamidade se iria encarregar-se sozinho
de toda a matança.
“Não, de todo”,
respondeu Calamidade. “Eu só vou matar umas centenas. O meu amigo Medo acabará
com os restantes.”
***
Quanto da nossa vida é
morta ou roubada pelo medo? Não aqueles medos de coisas como um holocausto
nuclear, mas medos pequenos e insignificantes que lentamente devoram as
melhores partes da vida: Será que o novo professor me vai detestar? De certeza
que eles vão gozar com o meu discurso? Vou reprovar no exame!
Mas o medo não é o
único ladrão que se esconde dentro de nós. Há um exército inteiro de pequenos
parasitas que nos podem enganar: ressentimentos causados por desfeitas
ocorridas há muito tempo; zangas originadas por disputas fúteis; competição
cruel por coisas secundárias; cortes de relações motivadas por teimosias acerca
de questões irrisórias; deceções que debilitam toda a existência.
Como é que podemos
escapar das garras deste ardiloso bando de gatunos? Podemos começar por fazer
algo muito simples: levantar os olhos e olhar para o céu. Há 50 biliões de
galáxias no espaço, algumas afastando-se de nós a milhões de km por hora! Com o
telescópio Hubble podemos ver a luz que as estrelas mais distantes emitiram há
12 biliões de anos! Algumas já morreram há milhões de anos mas só agora é que a
sua luz chega até nós. Parece que este imenso universo não tem fim, não tem
margens, não tem limites! E ainda assim, com toda a sua vastidão e idade, não
passa de uma criação, de algo feito por alguém.
E sobre este alguém, o
Criador? Chamamos-lhe “Deus”, mas na verdade Ele é demasiado grande para ser
nomeado ou sequer imaginado. Diante do Criador deste imenso e antigo universo,
parecemos apenas pontinhos minúsculos. Mas mesmo assim Ele diz-nos que o nome
de cada um de nós está escrito na palma da sua mão e que conhece todos os
cabelos da nossa cabeça. Para além de toda a compreensão, chama-nos “filhos” e
quer que façamos parte da sua família para a eternidade.
O que é que devemos
temer? Se deixarmos que Deus seja Deus para nós, de que é que devemos ter medo?
Quem nos pode tirar a vida? Ou a alegria? Ninguém, a não ser nós próprios!
Somos feitos à
semelhança de Deus, com o poder de amar e dar vida e felicidade. O nosso
trabalho para toda vida, cada um à sua maneira, é este: darmos a vida uns pelos
outros tal como Deus no-la dá continuamente.
O nosso destino está
para além de todas as expetativas humanas. Que neste dia e para sempre Deus nos
ajude a ser fiéis a esse fim último.
P. Dennis Clark, in Catholic
Exchange
1 comentário:
Este texto é muito reflexivo. Lutar contra os medos, as angústias, as decepções é difícil. Todos os dias de nossa vida nesta Terra serão de lutas, de desafios e sofrimentos, mas se acreditarmos que Jesus está no controle de tudo, que nenhum fio de nossa cabeça cai se Ele não permitir, sobreviveremos perante qualquer obstáculo e contemplaremos a vitória. Mas precisamos depositar nossa fé em Deus.
Precisamos aprender com Santa Terezinha do Menino Jesus a ter uma infância espiritual, a não ter medo de nos abandonar nos braços do Pai, a ter confiança n’Ele e depender de Seu amor por nós. É preciso ter a certeza de que “tudo concorre para o bem dos que amam a Deus” (Rm 8,19). Assim, tenho certeza que teremos uma felicidade plena, real.
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