Findo o acordo entre os amigalhaços da
troica portuguesa, Passos, Portas e Cavaco, lá foram todos à missa de
entronização do novo Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente. Salve-se a
novidade na linguagem, não seria ele a «tomar posse» da Diocese de Lisboa, mas
sim a Diocese a «tomar posse dele». Um trocadilho de linguagem que sempre
refresca um pouco nestes tempos tórridos de anacronismos medievais e desajustados
para os tempos de hoje.
A cerimónia revestiu-se de uma comoção deveras
surpreendente. Os troicados à portuguesa, lá estavam com aquele ar tão
compenetrado e devoto, com direito a palmas, porque mais vale ainda para algum
público católico um casamento de fachada, mesmo que debaixo de pancadaria,
ofensas de toda a ordem e incompetência confrangedora, do que um divórcio que
semearia o caos, segundo o modo de ver e pensar dessa tal claque católica. Bom, palminhas senhores porque aqueles que queriam
a irrevogavelmente a separação, agora merecem a nossa bênção e oração porque
hoje , graças ao amor cristão e à fé católica, aquilo que os homens queriam
desunir afinal o deus que nós inventamos contra o Deus que deixamos fora da
Igreja, abençoa esta santa aliança de amor entre Cavaco, Passos e Portas. Se
alguém falar é mais miséria, mais fome, mais desemprego, mais austeridade,
entre outros bruxedos que por aí andam, sejam banidos ou mortos pelo desprezo, pela indiferença que põe fora com a frieza típica das hierarquias.
Viva a nossa troica portuguesa. Enviados três a três para nos salvarem. São os coveiros da pátria. A imagem do nosso falhanço em oração. Que tristeza. |
Todos bem sentadinhos, de pé ou de
joelhos, ouviram as rezas, os salamaleques do protocolo hermético e cauteloso
destas cerimónias clericais e mais ouviram palavras bonitas sobre pobreza,
desemprego, Nova Evangelização, que tem em vista essencialmente solidariedade, caridade,
comunhão, unidade... E um enorme rol de palavras relacionadas com o momento
que depois nunca mais se ouve senão no próximo festim. Faltou só dizer que o
cardeal cessante, os senhores bispos, os sacerdotes e diáconos ostentavam
paramentos antigos bordados a fio de ouro. Quantos morreram de fome ou foram
escravizados até à condição da mais pura miséria para que hoje este desplante
tome conta de algumas pessoas, a ver se passa, esta mais cruel ostentação, estes
lautos faustosos sem Deus e sem aquele que morreu no alto da cruz, sem roupa,
sem pão e com sede. E mais grave ainda se vemos que são cada vez mais os sem
sorte que continuam errantes sem alforge a ter que deixar o seu país à procura
de sustento ou jogados no chão da pobreza e miséria nos enormes calvários que
estes poderes vão construindo em tantos cantos do nosso país.
Esta comunhão no altar da Igreja devia
meter-nos vergonha e quiçá suscitar-nos nojo como alguns já referiram, porque o
momento de dureza a que está votado o povo pelos os poderes deste nosso país, é
de tal ordem que em nós nos provoca uma enorme irritação, basta que apareçam e
se falam ainda é pior. É duro, mas é a realidade que se impõe contra a ausência
de vergonha a que estes eleitos se sentem investidos.
E foram felizes para sempre! Será? - Bom, até ver, porque isto de cumprimentos entre portas de igrejas na missa é fácil, no dia a dia é que são elas... |
Por aqui me fico. Porque não quero mais
dissertar sobre um assunto que devia no contexto em que vivemos estar mais que
ultrapassado, ainda mais se tivermos em
conta o empurrão e o exemplo que o Papa Francisco está passo a passo mostrando
que pode ser possível.
Por fim, mais ainda este aspecto só para
lembrar, no final da semana passada o Papa Francisco, em um encontro com padres
e religiosas criticou o facto de alguns andarem descaradamente com automóveis
topo de gama ou último modelo, que seria importante lembrarem-se quando andam com um carro desse
género, que ele foi produzido à conta de muitas vítimas de fome. O mesmo se
deve aplicar este pensamento em relação a todas a cerimónias faustosas bordadas
a ouro para entronizar tanto vazio e dar bênção a tanta inutilidade.
Enquanto o discurso de
toda a Igreja não se concentrar na denúncia forte sobre a injustiça que comanda
este mundo, servem os discursos apenas para encher o que todos imaginam se
chegaram com a leitura deste texto até aqui.
6 comentários:
Revº Padre José Luis Rodrigues,
Li e reli o seu texto e só consigo ver um texto carregado de ódio onde mistura tudo e todos.
Em minha opinião um Sacerdote deve ser alguém que procura unir, que seja um factor de comunhão, mas o Senhor Padre neste seu texto só divide e destroi.
Peço a Deus que Guarde o Senhor Padre, e desculpe a minha sinceridade e frontalidade.
José Tomaz
Caro José Tomaz. Está no seu direito de chegar às conclusões que entender após a leitura deste texto. Não tenho ódio a nada muito menos a ninguém. O ódio é um veneno que assassina quem o toma. E como posso ter ódio em relação a uma realidade que em muito pouco me diz respeito? - Reflecti sobre algo que foi público e de onde esperava um sinal exemplar. não vi, defeito meu, admito. Mais ainda no texto expressei a minha discordância em relação a alguns aspectos e precisei sobre a mistura isso sim do poder de Deus e o poder de César. Ainda mais se pensarmos que o nosso poder de César anda como anda. Apenas isso...
Olhe Senhor Padre custou-me principalmente vê-lo julgar o nosso novo Patriarca pelos paramentos que ele usou, mas também me espantou ver um Sacerdote julgar o seu próximo como o Senhor Padre julgou as autoridades que estiveram presentes nas cerimónias.
Penso não ser esse o espírito da Igreja Católica, mas o Sacerdote é V. Revª.
Que Deus o Guarde Senhor Padre
José Tomaz
Amigo José quem sou eu para julgar... Um reles e pobre juiz. Apenas me limitei a analisar e refletir sobre o que vi, à luz de tanta coisa que se vai passando no mundo, na Igreja e nosso país. Se fui mais além, que Deus me perdoe. Não o fiz por maldade nem muito menos por ódio, como se referem os fracos argumentos quando querem contestar só porque sim. Um abraço e que o Espírito Santo nos ilumine a todos, é o que mais desejo e rezo pedindo para o mundo inteiro. Receba um abraço fraterno.
Senhor Padre,
Apesar desta discórdia, atrevo-me a pedir-lhe que reze por mim, tal como pode contar com as minhas orações.~
E desculpe-me se fui impertinente
Que Deus o Guarde sempre
José Tomaz
Caro José. Pode contar com a minha oração. Contarei com a sua. Nada é mais saudável quando não pensamos todos da mesma forma... Fez muito bem expressar o seu pensamento e discordância. Um abraço.
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