1. Muito se tem ouvido falar sobre os
«nossos» bancos. Há quem não pondere muito as palavras, para considerar logo
que os culpados do descalabro económico foram os bancos. Mas não pode ser isso
que me trás aqui, porque não percebo o que devia sobre estes assuntos
relacionados com finanças, sigo Jesus Cristo, que no poema «Liberdade» Fernando
Pessoa disse: «Que não sabia nada de finanças / Nem consta que tivesse
biblioteca...». Uma mini biblioteca, é seguro que tenho, mas conhecimento de
finanças, menos, muito menos. Deixo essa matéria para os entendidos.
Porém, é óbvio, que não fico indiferente
ao sofrimento dos lesados deste ou daquele banco. Não sou indiferente à venda
de bancos a estrangeiros, especialmente, chineses e angolanos. Não sou
indiferente às enormes somas de liquidez rapada do Orçamento de Estado para
salvar qualquer banco aflito porque foi mal gerido ou andou envolvido em
produtos tóxicos. Não sou indiferente a todas as confusões que andaram a marcar
a agenda à volta dos bancos nos últimos anos.
2. Bom, mas o que me trás aqui tem a ver
com o sentimento que nos assiste quando entramos numa agência de qualquer
banco. Explico-me. Um dia destes, fui fazer um singelo depósito numa agência
bancária no Funchal, para que as despesas correntes não entrem em derrapagem
nem tenhamos à porta visitas desagradáveis para cortar água ou luz. Ouvi sem
querer, esta frase: «este produto não é de risco». Há mais de uma semana que
ando a pensar nesta frase.
3. Pergunta ingénua: o que não é produto
de risco hoje num banco quando o próprio banco está em risco? - Lembro-me que
nessa ocasião quando aquelas palavras soaram no meu interior esbocei um sorriso
e conclui que tudo está em risco nos dias que correm. Até ver, até o próprio
banco como instituição está em risco.
4. Nada, devemos ter contra os
funcionários dos bancos que nos atendem amavelmente e com toda a atenção. Mas,
por favor, não nos enganem mais. Têm que fazer o vosso trabalho e transmitir o
que vos mandam dizer aos clientes. Mas, por causa deste negativismo à volta dos
bancos, hoje, penso que não haverá ninguém que não desconfie e que não se
admire das garantias que os bancos apresentam. Todos os «produtos» são um
risco, o dinheiro anda em alto risco e a falta dele ainda é mais arriscado, os
bancos são um risco, a vida é um risco, o mundo é um risco… Ai que mistério,
para que alguma coisa não seja um risco e que se nós pertencemos a essa
realidade então poderá haver alguma «coisita» em nós que não esteja em risco
fatal.
5. Hoje, estamos naquela fase,
relativamente aos bancos como estivemos muito tempo em relação aos charlatães que nas ruas distribuíam papéis anunciando a solução para todos os problemas de
saúde, familiares, profissionais e até de finanças. Um mundo dourado, vinha ao
nosso encontro na pessoa dos «mestres» iluminados cheios de saber e poderes do
aquém e do além.
No campo religioso também existiam
milagres para todos os gostos, eles foram seitas religiosas e grupos
carismáticos que resolviam todos os problemas e dificuldades das pessoas.
Ao princípio olhamos isto com muita
admiração, depois desconfiança e agora indiferença dura, porque o descrédito
foi tão grande que hoje só cai nessa conversa fiada quem tenha passado mais de
20 anos a dormir.
Assim, os bancos estão na fase da desconfiança
e fazem-nos sorrir algumas expressões como esta que ilustra este banquete, mas
logo pode chegar a ocasião em que caímos na indiferença e essa fase será
trágica para os cidadãos, para economia e para os bancos especialmente. Srs.
dos bancos, por favor, que não vos canse a língua de falar claro, com verdade e
honestidade.
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