Crónica...
1. Ninguém imagina como seria o universo
se não existisse a morte. Em todo o caso é ela que vai renovar a humanidade,
porque substitui os seres gastos por novos e impede a sobre carga do mundo já
demasiadamente povoado.
Mas que serve o sofrimento se estamos
perante algo tão necessário e normal? - Porque a vida está edificada sobre
alicerces que não são humanos. É um enorme mistério de onde derivam o mistério
do sofrimento e do mal. Fazem parte da vida e ajudam a valorizá-la e se
quisermos até permitem que a beleza da vida seja melhor saboreada se ela
decorre com qualidade e com o prazer da felicidade. Muitos esquecem isto e
morrem de saudades disso quando faltou o melhor que a vida pode ter.
Pior ainda quando o drama da dor e do
sofrimento recaem sobre as crianças. Não há maior escândalo do que este, por
isso, lembra Ivan Karamazov o seguinte: «Não falo do sofrimento dos adultos:
esses comeram a maçã e que o diabo os leve a todos!... Mas as crianças! As
crianças!...» (In Irmãos Karamazov, Fiodor
Dostoievski). É um grito que expressa revolta de todas as pessoas do
bem perante o escândalo que é ver uma criança a sofrer.
2. A dor, esteja nas pessoas em qualquer
idade, em qualquer circunstância ou lugar do mundo e até mesmo nos animais, não
é compreensível. O mal não é justificável. No tempo dos Apóstolos, que
acreditavam que o Cego de Nascença, tinha sofrido um castigo por causa dos seus
pecados ou dos pecados dos seus antepassados, Jesus responde: «Nem ele pecou
nem seus pais» (Jo 9, 3).
Perante todo o género de mal que proporciona
sofrimento, precisamos de um grande esforço, para aceitar com humildade a
misteriosa irracionalidade do mal e o sofrimento que tantas vezes o mal provoca.
E Deus, como entra nisto? - Não fez muito
daquilo que nós fazemos. O Deus feito carne igual à nossa carne, fez-se
pequenino e pobre como nós e não teve atitude diferente da nossa perante o
sofrimento e o mal. Foi igualmente vítima do mistério do sofrimento e do mal,
tentando que elas recuassem ou ganhassem algum sentido. Parece pouco se falamos
de Deus, se esperamos Dele ser todo o poderoso. Assim, rezou Jean-François Six:
«Tu
não és aquele que estaria acima de tudo,
Tu
não és o invulnerável,
Tu
não és impassível,
Tu
não estás nos céus como num refúgio inatingível,
Tu
não és indiferente aos gritos dos homens...
Tu
não és surdo».
Afinal, também experimenta descendo da
sua grandeza para acolher na nossa pequenez tudo o que a ela pertence. Porque o
fez? - Para revelar o mistério maior que nos está reservado, a vida
ressuscitada, totalmente espiritualizada, divinizada... É o Mistério que
superará todos os outros mistérios. O importante é que ninguém escolha permanecer
na morte, lhe é oferecida a vida.
3. O mistério do sofrimento e o mistério
do mal, sempre fizeram parte da humanidade. São parte intrínseca da condição
humana. Mas, não terá sido essa constatação que tenha feito ficar indiferente
ou que não tenha levado Jesus a ser um lutador contra o sofrimento e o mal.
Aliás, deve ser Nele que procuramos inspiração para sermos também lutadores de
todas as formas de mal e de sofrimento que consomem a humanidade. Faz parte da
vida, faz parte do acreditar, paz parte da humanidade nunca desistir da luta
contra o mal que provoca o sofrimento, mesmo que tenhamos que conviver amargamente
com esses dois mistérios todos os dias da vida.
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