1. E pronto. Já está. 2017, já está
manchado entre nós com sangue, com um homicídio bárbaro infligido a um homem da
freguesia do Monte. Não somos terra de jihadistas terroristas, mas também não somos
um lugar de brandos costumes como tantas vezes nos fazem crer, somos igualmente
uma terra onde esporadicamente há terrorismo, violência fatal que põe em causa
a integridade do outro.
2. Não será muito difícil de imaginar
neste momento o que sente a família que perde um membro da sua casa desta
forma. Como deve ser difícil receber a notícia: «mataram agora mesmo, o vosso
pai, o teu marido, o teu filho...». Imaginamos o vazio e a dor que tomam conta
logo dessa casa e desses corações destas vítimas inocentes, porque aquele que
se esperava que chegasse neste dia como chegava todos os dias não chega mais,
porque alguém o colocou na morgue.
3. Não se mata em nome de nada nem em
nome de ninguém. É isto que penso, é isto que procuro viver e ensinar. Nada
deste mundo e do outro vale mais do que uma vida humana. Por isso, não se
resolvem os problemas a tiro ou com outros instrumentos que se sabe à partida
que vão tirar a vida a uma pessoa. Ninguém merece que assim seja. Nenhuma
necessidade por mais urgente que seja merece que se viva com a violência na
ponta dos dedos e com o coração carregado de ódio. Há meios próprios, mesmo que
tantas vezes morosos e injustos, mas é nesses lugares que se deve procurar
remediam as injustiças e o cumprimento da lei. Se assim não for, com tantos
problemas que existem, mais de metade da população vai acabar sendo assassinada.
4. O Papa Francisco na mensagem para
este ano sobre a paz, dia 1 janeiro de 2017 escreveu logo no nº 1: «Sejam a caridade e a não-violência a guiar o modo como
nos tratamos uns aos outros nas relações interpessoais, sociais e
internacionais. Quando sabem resistir à tentação da vingança, as vítimas da
violência podem ser os protagonistas mais credíveis de processos não-violentos
de construção da paz. Desde o nível local e diário até ao nível da ordem
mundial, possa a não-violência tornar-se o estilo característico das nossas
decisões, dos nossos relacionamentos, das nossas ações, da política em todas as suas
formas». A paz mundial, a paz entre os povos e nações, começa com as atitudes
de não-violência quotidiana que cada um deve procurar viver. Mais uma vez
reafirmo, nenhum problema merece ou terá valor acima de uma vida humana.
5. A nossa terra
precisa de um sério debate e de uma reflexão profunda sobre a não-violência,
para que não tenhamos que conviver com estas notícias sobre barbaridades, mesmo
que sejam de quando em vez. A falta de respeito pela vida do outro e a perda da dimensão transcendente da vida tem um preço, ele está aí diante dos nossos olhos, que se arregalam perplexos. Coisa que não basta, é preciso retomar a educação para a vida sem esquecer a sua dimensão espiritual, para que a materialidade deixe de ser um valor tão absoluto que conduza tanta gente a ser vítima da loucura da violência em nome de bens deste mundo.
Daqui
envio as mais sentidas condolências à família do Monte enlutada por este
acontecimento tão trágico da perda de um dos seus membros, quiçá muito importante
para o seu sustento e sobrevivência. Porém, não deixo também de sentir tristeza,
imaginando a inquietação, o medo e a consternação da família do homicida.
Obviamente, que custa muito uma perda destas e todos nós sentimos as nossas
mentes ensombradas nas últimas horas, mas tenhamos forças para continuar a vida
solucionando as desavenças com compreensão, perdão e com justiça. Não desejávamos
de forma nenhuma que o primeiro mês do ano fosse logo manchado com sangue na
casa de ninguém.
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