«Deus e eu»
Hoje
iniciamos a secção «Deus e eu» no Banquete da Palavra. É um espaço aberto à
participação dos amigos do Banquete e do facebook, convidados por mim a
escreverem um texto inédito sobre o seu posicionamento pessoal face a esta
expressão: «Deus e eu». Não podíamos começar melhor. Temos logo a abri um texto
magnífico do amigo Nuno Morna, escrito em exclusivo para os leitores e seguidores
do Banquete da Palavra. Vai ser uma secção que vai dar que falar. Assim espero.
Agora desfrutem…
25
janeiro de 2017
Tenho de Deus uma
perspectiva judaica. Não sei se isso advém da minha costela de cristão-novo, se
de um relacionamento que fui criando com ele de parceria.
Pode soar a blasfémia,
mas Deus é um bocado de mim. Acompanha-me sempre porque em mim. Penso mesmo que
temos todos um quê de divino. Porque assim o entendo, tenho a certeza da
divindade que reside nos outros. É por isso que se todos formos criando a
habilidade de nos admirarmos uns aos outros estamos no caminho correcto para um
mundo melhor. Porque da admiração vem o respeito e do respeito o amor.
Não há dia em que com
Ele não fale. E são conversas que por vezes passam além do cordato. Dos
assuntos do dia-a-dia, aos de cariz mais filosófico. De tudo falamos. E não é
um falar de mim para mim como se poderia pensar. São verdadeiras conversas
entre duas entidades que porfiam o mesmo caminho. Entre duas entidades onde uma
procura orientar a outra dando-lhe a capacidade de poder escolher as vias a
seguir, os caminhos a trilhar.
É o livre arbítrio que
nos guia. Esse “terrível” poder que Deus nos deu de sermos responsáveis pelas
nossas decisões, de delas colhermos os benefícios ou prejuízos, como tão bem
explica Santo Agostinho em De Libero
Arbitri. Se Agostinho diferencia e considera o livre arbítrio a
possibilidade de escolhermos entre o bem e o mal e a liberdade o bom uso do
mesmo, para mim tudo isto se mistura.
Se houvesse que definir
um lugar onde colocar a alma, esta residiria entre o coração e a cabeça. O
coração que sofre e se alegra, o coração dos estados de espírito que coabita no
mesmo corpo com a razão, o conhecimento, o lado que comportamos como mais
racional.
E é sumula de tudo isto
que forma aquilo que somos, o que representamos: entidades únicas e
irrepetíveis condenadas a se entenderem em paz e pela solidariedade sob pena de
um dia deixarmos de ser.
E a culpa não será
certamente de Deus.
Nuno Morna
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