1. «A caridade cristã não resolve nada. O
que resolve é a justiça social». Sim, concordo com a primeira frase, embora
tenha muito que se lhe diga esta ideia tão impregnada na sociedade de hoje,
porque é um bordão para que não se fazer nada. Por isso, podemos também dizer, o
que resolve não fazer nada, não partilhar nada, não matar a fome a ninguém, não
ir ao encontro, dialogar, saudar, abraçar, estender a mão para cumprimentar,
para acariciar, para abafar e para aconchegar entre tantos gestos que podem ser
uma pequena luz que se acende no coração de quem nada tem senão a rua para
deambular? – Tem muito que se lhe diga… E tantos dizem que um pequeno gesto,
uma palavra fazem a diferença e podem ser uma gota de água de um oceano imenso,
mas a Madre Teresa de Calcutá bem o dizia, que faltando essa gosta, o oceano é
menor.
2. Porém, a seguir concordo com a
segunda parte da frase: «O que resolve é a justiça social». É verdade que
enquanto não for criada uma sociedade justa, mais igualitária e que se organiza
em função de todos os cidadãos, não deixaremos de ter marginais, pobres,
mendigos, sem abrigos… A pobreza é uma forma de terrorismo silencioso que
precisa de ser combatido urgentemente.
3. Em todo o caso gostaria de desbravar
um pouco a ramagem que ofusca a caridade. A caridade, aquela que partilha o pão,
a roupa e outros bens com quem não tenha nada disso, sempre existiu e nunca
deve deixar de existir enquanto for necessário que exista. Todos os cristãos,
especialmente, devem sentir-se impelidos a exercerem esta prática regularmente.
Porém, os cidadãos em geral também devem sentir que têm essa grave
responsabilidade, mesmo que sintam que os seus gestos de partilha não resolvem
nada. Porque, o «não resolve nada», é fácil dizer-se em relação a tanta coisa
da nossa vida. Com isso demito-me da minha obrigação e por mais umas horas
descanso a consciência e sossego a minha quota de responsabilidade sobre a mancha
negra que é a pobreza que nos rodeia. Por isso, não posso aceitar nem muito
menos concordar com esta frase que sossega a consciência da generalidade da
sociedade.
4. Obviamente, que concordo plenamente
com segunda parte da frase «o que resolve é a justiça social», levada a cabo pelos
governantes que não deviam ter vergonha dos pobres e implementarem políticas
sociais claras que libertassem as pessoas que caíram na mendicidade. É da
responsabilidade dos governantes gerirem os nossos impostos, por isso, é a eles
que a este nível devia ser exigido providenciariam políticas justas que não
deixavam ninguém para trás.
5. Tal não acontece,
porque, por um lado, não há sensibilidade social, dando a entender que concertar
políticas igualitárias tanto se dá como se deu. Menos ainda se nota que exista
consciência de que a pobreza é uma violação dos Direitos Humanos, porque
enquanto isso não acontecer não será combatida com determinação. O encolher de ombros
perante esta desgraça, devia ser considerado crime. Por outro lado, a consciência
da sociedade eleitora ainda é pouco militante e não se organiza para pressionar
os políticos eleitos, para que tomassem a sério a suas graves responsabilidades
na igualdade de oportunidades para todos os cidadãos. O bem comum e a justiça
são o caminho da libertação dos oprimidos. Que esta ideia vença para que a
desgraça dos infelizes e dos sem sorte possam encontrar alguém e algo que lhes
acenda a luz da esperança e da dignidade.
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