1. Já foi dito tanto, quer bem quer mal,
que pouco me resta para dizer. Mas vou ensaiar dizer umas coisas singelas
levado pela brisa do vento que passa. Obviamente, que aquilo que sei de Soares,
está de acordo com a maioria dos portugueses que hoje beneficiam da sua luta pela
liberdade levada a cabo juntamente com tantos outros, que desembocou felizmente
no fim da ditadura salazarenta e à implantação da Democracia. O seu amor à
liberdade para todos deve ser para nós um exemplo e um testemunho que nos deve
colocar numa atitude de gratidão.
2. Todo o mal que se tem dito de Soares
hoje não interessa para nada, o mesmo se pode dizer para todos os mortos, o mal
que se diga de qualquer morto é como a importância da chuva para hoje que caiu há
100 ou 200 anos. Porém, o exemplo de uma luta pela paz, a luta pela tolerância
face às diferenças e pela liberdade a todos os níveis, devem ser sempre
salientados para que sejam lutas inspiradoras para os que vivem hoje ou venham a
viver a seguir.
3. O meu conhecimento de Soares e a
minha proximidade radica na admiração que sinto pela sua inteligência, a sua
criatividade política, o seu respeito pelas diferenças, a sua laicidade, a sua
abertura para o diálogo, a sua bagagem intelectual... Uma série de qualidades
que para mim fazem da vida de um político exemplar e digno de ser estudado,
porque a sociedade hoje, a caminhar para a escravidão no trabalho, a ser manipulada
pelos poderes económicos e pela comunicação social, a sombria «pós verdade» que
se impõe como eufemismo das falsas promessas e da mentira que comandam o mundo...
Há uma série de razões para que a luta do político Mário Soares não seja
esquecida, mas faça parte dos meios educacionais para as novas gerações. As
liberdades individuais, a dignidade da participação dos cidadãos, as garantias
e a liberdade de expressão em todos os tempos, mesmo que em moldes distintos, estão
sempre a ser ameaçados, por isso, urge que não se esqueça o legado de Mário
Soares.
4. Outro elemento admirável de Soares é
o seu amor à pátria, coisa que hoje também anda nas ruas do esquecimento, e a
sua laicidade tantas vezes manifestada nos seus pronunciamentos e na sua
prática política. Não deve ser esquecido o seu profundo respeito pela Igreja
Católica, sobre quem devia ter muitas razões para apontar o dedo quanto à sua ação
tão submissa nos tempos da ditadura de Salazar, mas nunca o vez. Pelo contrário,
sempre aberto ao diálogo e disponível para participar em qualquer iniciativa
promovida pela Igreja Católica. Lembro com saudade uma comunicação que assisti
na Universidade Católica no Porto no âmbito de uma jornadas promovidas pela
faculdade de Teologia na Universidade Católica do Porto.
5. É este espírito aberto a todos os
âmbitos da comunidade humana, que hoje deve fazer parte do nosso pensamento e
que o seu exemplo inspire os homens e as mulheres de hoje a tomarem a sério a
convivência entre si com liberdade e respeito pelas diferenças. A inquietação
quanto ao futuro do nosso mundo, deve ser razão mais que suficiente para
tomarmos a sério esta causa da liberdade e da tolerância.
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