Cá te viste
1. É muito retemperador para o ego e
para o nosso equilíbrio psicológico que assim do nada alguém no meio da rua nos
aborde, perguntando por nós, se está tudo bem, se não estamos ou estivemos
doentes, porque há algum tempo que não somos vistos passar num determinado
lugar e às horas habituais. Mais saboroso ainda se a pessoa que nos fala nunca
nos falou e não nos lembramos dela de parte nenhuma. Esta experiência
retempera-me as forças, a esperança e a fé na humanidade.
2. Nos detalhes podemos saborear a
diferença, a presença de Deus, a riqueza da humanidade, o sentido da amizade e
da solidariedade, mesmo que venha anónima e dos corações mais inesperados.
3. Fernando Pessoa, cremos que por
ocasião da morte da irmã, quando ele tinha apenas 13 anos, escreveu o poema:
«Quando ela Passa», que começa deste jeito: «Quando eu me sento à janela / P'los
vidros qu'a neve embaça / Vejo a doce imagem d'ela / Quando passa... passa.…
passa...». No belíssimo poema a «Garota de Ipanema» cantado por Caetano Veloso,
ficou imortalizado esse passar: «Ah, se ela
soubesse / Que quando ela passa / O mundo inteirinho se enche de graça / E fica
mais lindo / Por causa do amor».
4. É toda esta impressão que nos anima e que nos faz sorrir, agradecidos
pela dádiva de que haverá alguém sempre neste mundo que nos vê passar e que se
não passarmos, por causa do amor, sempre nos dirá alguma vez: «desculpe,
meter-me consigo». Venham sempre estes metediços, porque nós estaremos sempre
disponíveis para agradecer muito e sorrir de felicidade, porque a humanidade está viva e recomenda-se.
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